TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM (18.11.12)
Mc 13, 24-32
O texto de hoje
nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois está
saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis
eventos históricos e referências tiradas de escritos do tempo do Antigo
Testamento, muitas dos quais desconhecidos por nós. Porém, a sua
mensagem central fica clara – o triunfo final do Filho do Homem,
mandando por Deus para estabelecer o seu Reino. A linguagem
vetero-testamentário de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a
reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a
vinda escatalógica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento
central. A sua vinda gloriosa no fim dos tempos servirá como prova da
vitória de Deus – e a expectativa desta chegada serve como base da
vigilância paciente que é recomendada aos discípulos ao longo de todo o
Discurso Escatalógico de Marcos.
Os sinais
cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo
Testamento: Is 13, 10, Ez 32,7; Am 8,9; Jl 2,10.31; 3,1-5; Is 34,4; Ag
2,6.21; Mas em nenhum lugar no Antigo Testamento se referem à vinda do
Filho do Homem – é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é
uma maneira de dizer que toda a citação assinalará a sua vinda final. A
descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do
livro de Daniel 7,13, mas aqui se refere claramente a Jesus e não à
figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A
ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zc 2,10. Este reunir-se
dos eleitos do seu povo por parte de Deus se encontra em Dt 30,4; Is
11,11.16; 27,12. Ez 39,7 etc. – mas nunca no Antigo Testamento é o Filho
do Homem que faz esse trabalho.
A segunda parte
do texto consiste em uma parábola (vv. 28-29), um ditado sobre a hora
do fim (v 30), sobre a autoridade de Jesus ( v. 31) e de novo sobre a
hora (v 32). Nem sempre fica claro a que se refere – o que se fala sobre
essas coisas” acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o v.
32 que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os
sinais claros da chegada do fim (vv. 28-29) tem em contraposição a
parábola da vigilância constante (vv. 33-37). Mas continua clara a
mensagem básica – a vitória final do projeto de Deus, concretizada
através de Jesus, o Filho do Homem. Mas a
certeza dessa
vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos
discípulos, para que não se desviem do caminho.
Pode parecer
confuso o nosso texto – e para nós hoje, de uma certa forma o é. Mas,
inserido no contexto do Discurso Escatalógico (referente aos tempos
finais) do Evangelho, nos traz uma mensagem de esperança e uma
advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é
garantida – um elemento fundamental em todo apocaliptismo. A advertência
está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a
hora do Filho. Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de
muitos, o texto convida nós, os discípulos, à uma atitude positiva que
nos leva a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre
nós. Mas também nos desafia para que estejamos sempre vigilantes para
não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que
muitas vezes se baseia em princípios contrários aos do Reino de Deus.
As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar
as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu a terra
passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br
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