A Constituição
Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II (1962-1965), afirma que “a
Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o
próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem
cessar toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o
pão da vida, e o distribui aos fieis” (DV 21).
Historicamente,
porém, constatamos que a reverência em relação à Eucaristia é muito
maior. Há um cuidado especial em relação à presença de Jesus no
Santíssimo Sacramento que não se verifica quanto à presença de Jesus, a
“Palavra que se fez carne”, na Sagrada Escritura. A Bíblia, em geral,
não tem um lugar de honra e destaque em nossas igrejas. E, muitas vezes,
não se trata a Palavra sagrada com veneração, substituindo o Lecionário
por folhetos e livros descartáveis.
Penso que
podemos começar a animação bíblica da vida e da pastoral de nossas
comunidades cristãs pela liturgia. O Concílio Vaticano II enfatizou a
importância da Sagrada Escritura, incluindo em cada celebração
sacramental a leitura e explicação da Palavra do Senhor. Precisamos
valorizar todas as celebrações litúrgicas e a proclamação da Palavra de
Deus que está prevista em cada uma delas: “Cristo está presente pela sua
palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas
Escrituras na igreja” (Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 7).
Como seria bom
que o Ministério da Palavra fosse apreciado e contasse com pessoas
devidamente preparadas. Aqui cabe mais uma vez uma comparação com a
Eucaristia. Que bom termos ministros extraordinários da comunhão
eucarística bem preparados, que aprendem a exercer sua missão com amor e
competência. Não seria adequado fazermos o mesmo quanto à proclamação
da Palavra na liturgia?
O primeiro
passo é preparar a assembléia litúrgica para escutar a Palavra de
Salvação que nos é dirigida em cada celebração sacramental. Uma atitude
de reverência à voz do Senhor que nos fala se manifesta no silêncio
atento: “E Samuel não deixava sem efeito nenhuma das palavras do Senhor”
(ver 1Sm 3,19).
Faz-se
necessário preparar leitores aptos a anunciar a Palavra de Deus nas
celebrações. Como é triste ver pessoas sem a devida preparação ler o
texto bíblico sem expressão, sem vida. Onde fica o anúncio da Palavra do
Senhor, quando não compreendemos palavra alguma? Ler não é decifrar e
juntar letras, palavras e frases! Ler é compreender! Só pode ler bem em
público quem entende o que lê. O papa Bento XVI, na exortação apostólica
pós-sinodal Verbum Domini, quando trata da proclamação da Palavra e do
ministério do leitorado, afirma: “A formação bíblica deve levar os
leitores a saberem enquadrar as leituras no seu contexto e a
identificarem o centro do anúncio revelado à luz da fé. A formação
litúrgica deve comunicar aos leitores uma certa facilidade em perceber o
sentido e a estrutura da liturgia da Palavra e os motivos da relação
entre a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística. A preparação
técnica deve tornar os leitores cada vez mais idôneos na arte de lerem
em público tanto com a simples voz natural, como com a ajuda dos
instrumentos
modernos de
amplificação sonora” (VD 58). Biblistas, liturgistas e técnicos em
comunicação social podem contribuir na preparação de todos os ministros
da Palavra para atuar nas diversas celebrações: batismo, eucaristia,
matrimônio... Sem esquecer as celebrações da Palavra.
O cuidado com a
homilia também foi assunto do Sínodo sobre a Palavra de Deus na Vida e
na Missão da Igreja, realizado em outubro de 2008. O papa retomou este
assunto na Verbum Domini, n. 59: “pensando na importância da palavra de
Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da homilia; de fato,
esta constitui parte integrante da ação litúrgica, cuja função é
favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na
vida dos fieis. A homilia constitui uma atualização da mensagem da
Sagrada Escritura”.
Que o Senhor
nos inspire e guie nossos passos, a fim de que tenhamos coragem de
realizar a conversão pastoral de que necessitamos para colher os frutos
no devido tempo: “... a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da
Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força”
(Sacrosanctum Concilium, n. 10).
Pe. Videlson Teles de Meneses
Coordenador da Animação Bíblica da Pastoral da Arquidiocese de Aracaju-SE
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