O Tempo do Advento
1. História do Advento
Não
é fácil precisar a história e o primitivo significado do Advento; além
disso,as noticias sobre suas verdadeiras origens são parcas .É
necessário distinguir elementos que dizem respeito a práticas ascéticas e
a outras, de caráter estritamente litúrgico; um Advento que é
preparação para o Natal e um Advento que celebra a vinda gloriosa de
Cristo ( Advento escatológico). No Oriente, permaneceu quase ignorado um
período de preparação ao Natal.
Portanto,
o Advento é próprio do Ocidente. São descartadas totalmente as teorias
que atribuem o Advento a São Pedro e sua existência aos tempos de
Tertuliano e São Cipriano.O testemunho mais antigo encontra-se em uma
passagem de Santo Hilário (por volta de 366)que diz:"Sancta Mater
Ecclesia Salvatoris adventus annuo recursu per trium septimanarum
sacretum spatium sivi indicavit"(CSEL,65,16)"A santa mãe igreja oferece
um espaço sagrado de três semanas por ano para a vinda do Salvador" .
O
duplo caráter do Advento, que celebra a espera do Salvador na glória e a
sua vinda na carne,emerge das leituras bíblicas festivas .O primeiro
domingo orienta para parusia final,o segundo e o terceiro chamam a
atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos
para a natividade de Cristo ao mesmo tempo fazendo dela a teologia e a
história. Portanto, a liturgia contempla ambas as vindas de Cristo, em
íntima relação entre si.
2. Espiritualidade do Advento
Toda
a liturgia do Advento é apelo para se viver alguns comportamentos
essenciais do cristão: a expectativa vigilante e alegre, a esperança, a
conversão, a pobreza.
a) A
expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre o cristão e a Igreja,
porque o Deus da revelação é o Deus da promessa, que manifestou em
Cristo toda a sua fidelidade ao homem: "Todas as promessas de Deus
encontram nele seu sim" ( 2 Cor 1,20). A esperança da Igreja é a mesma
esperança de Israel, mas já realizada em Cristo.
Os
nossos primeiros irmãos na fé, como atesta a Didaqué, imploravam: "Que o
Senhor venha e passe afigura deste mundo. Maranatha. Amém". Assim
termina o livro do Apocalipse e toda a escritura:"Aquele que atesta
essas coisas diz: Sim! venho muito em breve. Amém! Vem Senhor Jesus. A
graça do Senhor Jesus esteja com todos. Amém"(Ap 22,20).
A
expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria. O
Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera
certamente acontecerá. Deus é fiel. A vinda do Salvador cria um clima de
alegria que a liturgia do Advento não só relembra, mas quer que seja
vivida.O Batista, diante de Cristo presente em Maria, salta de alegria
no seio da mãe.O nascimento de Jesus é uma festa alegre para os anjos e
para os homens que ele vem salvar (cf. Lc 1, 44.46-47; 2,10.13-14).
b) No Advento, toda a Igreja vive a sua grande esperança. O Deus da revelação tem um nome:"Deus da esperança"(Rm15,13).
Não
é o único nome do Deus vivo, mas é um nome que o identifica como "Deus
para conosco".O Advento é o tempo da grande educação à esperança: uma
esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação,
da perseguição e da lentidão no desenvolvimento do Reino; uma esperança
que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivistas e do
frenesi do futuro programado pelo homem.
Na
convocação ao testemunho da esperança, a Igreja, no Advento, é
confortada pela figura de Maria, a mãe de Jesus.Ela que "no céu,
glorificada em corpo e alma, é a imagem e a primícia da Igreja...brilha
também na terra como sinal de segura esperança e de consolação para o
povo de Deusa caminho, até que chegue dia do Senhor" (cf. 2 Pd 3,10).
c) Advento
,tempo de Conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria
sem retornar ao Senhor de todo coração, na expectativa da sua volta.A
vigilância requer luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão
e, portanto, desapego dos prazeres e bens terrenos. O cristão,
convertido a Deus, é filho da luz e, por isso, permanecerá acordado e
resistirá às trevas, símbolo do mal, pois do contrário corre o risco de
ser surpreendido pela parusia.
Esse
comportamento de vigilante espera na alegria e na esperança exige
sobriedade, isto é, renúncia aos excessos e a tudo aquilo que possa
desviar-nos da espera do Senhor.A pregação do Batista, que ressoa no
texto do evangelho do segundo domingo do Advento, é apelo para a
conversão, a fim de preparar os caminhos do Senhor.
O
espírito de conversão , próprio do Advento, possui tonalidades
diferentes daquelas relembradas na Quaresma. A substância é
essencialmente a mesma, mas, enquanto a Quaresma é marcada pela
austeridade da reparação do pecado, o Advento é marcado pela alegria da
vinda do Senhor.
d) Enfim,
um comportamento que caracteriza a espiritualidade do Advento é o do
pobre. Não tanto o pobre em sentido econômico, mas o pobre entendido em
sentido bíblico: aquele que confia em Deus e apóia-se totalmente nele.
Estes anawîm , como os chama a Bíblia, São os mansos e humildes , porque
as suas disposições fundamentais são a humildade, o temor de Deus, a
fé.
Autor: Padre Gian Luigi Morgano
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