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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Um caminho pedagógico

  Ecumenismo é, entre outras coisas, um processo de cura de feridas profundas e antigas no corpo dos discípulos de Cristo. A separação vem de séculos, o afastamento criou preconceitos, fez cada um alimentar imagens negativas do outro e as Igrejas durante  muito tempo aprenderam a se defender umas das outras. Diante disso, quem se envolve numa proposta de construção de uma espiritualidade ecumênica pode perguntar: Por onde devemos começar? Que caminhos devemos seguir?

            O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso publicou em 1991 o documento Diálogo e Anúncio. Lá são destacadas quatro formas de diálogo, cada uma ligada a um campo de atuação religiosa. O documento trata de diálogo inter-religioso, que  vai além das comunidades cristãs a que nos referimos quando falamos estritamente de ecumenismo. Mas as quatro formas de diálogo podem ser adaptadas para indicar um caminho pedagógico para a construção de relações ecumênicas também. São as seguintes:

a) diálogo da vida: é o que acontece no convívio diário quando conhecemos pessoas de outras Igrejas. Não vamos começar discutindo doutrinas religiosas, vamos criar laços de amizade, vamos conversar sobre sentimentos humanos, preferências, alegrias e tristezas, vamos conhecer fraternalmente o outro. Na catequese, temos que preparar para esse tipo de diálogo porque há presença de cristãos de outras Igrejas na vida dos catequizando, na família, no ambiente escolar, na vizinhança, no local de trabalho.

            b) diálogo da ação: o mundo precisa da ação dos cristãos no socorro aos necessitados, na educação para valores mais construtivos, no protesto contra as injustiças, na defesa da vida, na construção de um mundo melhor para todos. Então a catequese pode mostrar exemplos de Igrejas unidas para realizar boas obras. É bom lembrar até a parábola do bom samaritano, em que Jesus colocou como exemplo de solidariedade justamente uma pessoa que, pelos padrões da religiosidade judaica, pertencia a um grupo dissidente. Muita coisa já é feita em conjunto e esse tipo de trabalho deve ser conhecido e apoiado.

            c) diálogo dos intercâmbios teológicos: aí entram os teólogos, os estudiosos que ajudam a organizar textos onde se expõem as divergências e as aproximações. Há muitos acordos bilaterais feitos pela nossa Igreja com cristãos de outras denominações. A divulgação desses textos em geral é muito deficiente e, por isso, nem sempre eles produzem todo o efeito que deles poderíamos esperar. Na vida cotidiana, mesmo em se tratando de pessoas com o devido preparo, creio que o diálogo teológico deveria vir depois dos outros dois (de vida e ação) porque, se já houver amizade e cooperação entre as duas partes, a conversa sobre as divergências fica muito mais fácil. Com boa vontade de ambos os lados, vamos compreender melhor que não se busca uniformidade e sim unidade na diversidade.

            d) diálogo da experiência religiosa: é o compartilhamento das riquezas espirituais, da oração, da busca de Deus, da vivência amorosa do discipulado. Aqui entraria a valorização das orações e cantos que podem se tornar comuns e também os exemplos dos que viveram heroicamente sua vocação cristã nas diferentes Igrejas. À catequese caberia destacar, entre outras coisas, que temos em comum toda uma espiritualidade bíblica. O Pai Nosso e o Credo têm versões ecumênicas, com pouquíssimas diferenças.

            Imaginemos agora que esses caminhos de diálogo, com o devido respeito às identidades de cada denominação cristã, fossem assumidos e regularmente vivenciados. Como ficaria esse testemunho diante dos que ainda não creem?

Therezinha Cruz

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