Isto é o meu corpo que é entregue por vós
A
Eucaristia é o último dos sacramentos da iniciação cristã, o último dos
sacramentos que nos inserem na vida do Cristo morto e ressuscitado,
fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de
todos os sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo
Sacramento!
Como falar deste sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vamos seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. Vamos iniciar precisamente citando Catecismo:O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar, assim, à Igreja, sua amada esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura” (CIC 1323).
Estas
palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia.
Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos
em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho
consagrados, mas sim na Celebração eucarística, isto é, na Missa,
sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no
decorrer dos séculos, até que ele venha, o sacrifício da cruz! Então, a
Eucaristia é a Missa!
Mas, que significa “missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela?
No
decorrer da história este sacramento teve vários nomes, cada um deles
sublinhando um aspecto deste mistério tão rico. Primeiramente chamou-se
“Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças”. O termo
aparece muitas vezes o Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de
graças que tantas vezes Jesus pronunciou nas suas refeições com os
discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou), partiu e
distribuiu-o entre eles, dizendo: “Isto é o meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s). Na
religião dos judeus, a bênção de ação de graças era proclamação das
obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava
graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. Por isso, os
cristãos, cumprindo a ordem do Senhor Jesus, celebram a Ação de Graças a
Deus pela sua grande obra: ter entregado o seu Filho desde a encarnação
até a consumação na cruz, tê-lo ressuscitado dos mortos e o feito
assentar-se à sua direita na glória. Assim, celebrar a santa Eucaristia é
bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez pelo seu santo Filho
Jesus.
Outro
nome dado à Eucaristia, já no novo Testamento, foi “Ceia do Senhor”
(cf. 1Cor 11,20), porque este sacramento é a celebração daquela ceia que
o Senhor comeu com os seus discípulos na véspera da Páscoa. Por um
lado, aquela ceia era já a celebração ritual, em gestos, palavras e
símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no dia seguinte: ele se
entregaria totalmente na cruz, iria nos dar seu corpo e seu sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será entregue na cruz! Bebei:
isto é o meu sangue que será derramado por vossa causa!” Por outro
lado, esta ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava a ceia das
núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com sua Esposa, a
Igreja, na Jerusalém celeste:
“Felizes
aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro”
(Ap 19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia
que Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição,
mas também já antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a ceia
do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento
eterno para sua Esposa, a Igreja. Em outras palavras: é uma ceia que
começa na terra e durará no céu, por toda a eternidade!
Mais
um nome para este sacramento santíssimo: “Fração do Pão”. É um nome
antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo nos Atos dos
Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico da ceia judaica, foi muitas
vezes repetido por Jesus quando abençoava e distribuía o pão (cf. Mt
14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na Última Ceia, quando ele partiu
o pão. Através desse mesmo gesto, os discípulos reconheceram o Senhor
ressuscitado: eles o reconheceram ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35).
Por
tudo isso, os primeiros cristãos usavam a expressão “fração do pão”
para designar suas reuniões nas quais, na ceia, partiam o pão como Jesus
e em memória de Jesus. Deste modo, os primeiros cristãos queriam
revelar a consciência que tinham que todo aquele que come o único pão
partido, pão da Eucaristia, que é o próprio Senhor ressuscitado,
entre em comunhão com ele e forma com ele um só corpo, que é a Igreja:
“O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de
Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que
há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos
participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).
Um
outro nome, que era caro aos santos doutores da Igreja Antiga,
sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”, que significa
“assembleia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é para ser celebrada
pela Comunidade eclesial presidida pelo ministro ordenado. Onde a
Comunidade se reúne para a Eucaristia, aí está a Igreja, povo de Deus
reunido no único Espírito Santo, para oferecer o único sacrifício do
Filho Jesus para a glória do Pai e salvação do mundo inteiro.
Dom Henrique Soares da Costa
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