NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA (24.06.12)
Lc 1, 57-66.80
“Ele vai se chamar João”
O primeiro capítulo de Lucas é um exemplo da
capacidade literária desse “artista da palavra”. Usando uma forma literária bem
conhecida do seu tempo, a da “anunciação”, Lucas prepara o chão para que a sua
obra demonstre a transição do antigo ao novo povo de Deus, da antiga à nova
aliança.
O capítulo faz paralelos entre duas histórias de
anunciação, a Zacarias e a Maria. Ambos os texto seguem o estilo convencionado
dessa forma literária: a anunciação de um evento, em nome de Deus, feito por um
mensageiro divino (nestes casos, Gabriel); uma objeção ao anúncio (a idade de
Isabel e Zacarias, a virgindade de Maria) e um esclarecimento da parte do
enviado, e a reação do destinatário: no caso de Zacarias, a incredulidade, da
parte de Maria, a fé. Assim, Zacarias fica mudo (os ritos do Templo não têm
mais nada a dizer ao povo), enquanto Maria canta a misericórdia de Deus para
com seu povo, no Magnificat! O casal
justo, Zacarias e Isabel, representa o Antiga Aliança, que agora será
substituída pela Nova, representada por Maria, José e Jesus. Essa transição é
ainda simbolizada pelos locais escolhidos para a anunciação, - a primeira se dá
no Templo a um sacerdote, a segunda na vila de Nazaré a uma moça interiorana. E
a história da circuncisão e escolha do nome de João em 1, 59, é paralela aos
mesmos eventos na vida de Jesus em 2, 21.
Tipicamente, os nomes dados aos dois meninos indicam a
sua missão: o nome “João” quer dizer
“Deus tem piedade”, é prefigura a sua missão - de pregar a misericórdia de Deus
ao povo convidado ao arrependimento dos pecados. O nome “Jesus” significa “Deus salva”, e também é o resumo da missão de
Jesus, o único salvador da humanidade.
O texto de Lucas de hoje, referente a João, contém os
temas centrais da toda a sua obra: o Espírito Santo (v. 80); a misericórdia de
Deus (v. 58); a opção de Deus pelos pobres e marginalizados (v. 58); a alegria
profunda (v. 58); a oração (vv. 67-79) e a importância das mulheres na História
da Salvação (vv. 57.60).
A festa de hoje nos
faz lembrar a missão de João - a de demonstrar a presença do salvador no meio
do povo. Hoje, quem é que tem essa mesma missão? São os cristãos de hoje, nós,
chamados a testemunharmos esta presença salvadora no meio do mundo moderno. Para
Lucas, este testemunho é a missão de todo cristão (At 1, 8), e é para isso que
recebemos o dom do Espírito Santo. No esquema de Lucas, João era o precursor -
aquele que apontava para a presença de quem implantaria o projeto de Deus no
mundo; Jesus era o enviado do Pai para que este projeto do Reino se
concretizasse; e somos nós, as comunidades cristãs, que temos a missão de
prolongar esta missão, “até os confins da terra”(At 1, 8b). A celebração de
hoje, do “maior de todos os profetas”, nos desafia, para que corajosamente
assumamos a nossa vocação profética, pois somos continuadores dessa missão,
iniciada com João, realizada em Jesus e continuada na Igreja, de sermos “testemunhas
minhas... até os extremos da terra” (At 1, 8)
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Pe. Tomaz Hughes,
SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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