Em nota pastoral do dia 19 de abril a
Conferência Episcopal Portuguesa motivou a “Celebrar e viver o Concílio
Vaticano II”, em vista da comemoração dos 50 anos de abertura do Concílio e do
Ano da Fé. (ZENIT.org 24/04/2012). Eis um resumo desta nota:
Celebrar o Concílio. Na Carta apostólica “A Porta da Fé”, assim se exprime
o Papa Bento XVI: «Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião
propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres
Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, “não perdem o seu
valor nem a sua beleza (…). Sinto hoje, ainda mais intensamente, o dever de
indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX:
nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que
começa. Quero aqui repetir, com veemência, as palavras que disse a propósito do
Concílio, poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: “Se o
lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e
tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da
Igreja”.(1)
Celebrar
o cinquentenário do Concílio, nestes tempos em que a fé deixou de ser um dado
evidente, há de ser uma ocasião para aprofundarmos tão grande dom de Deus, que
nos faz experimentar a alegria e o entusiasmo do encontro com Cristo na
comunidade da sua Igreja. Se a nossa fé não se renova, facilmente degenera num
adorno espiritualista e as práticas religiosas não passam de rituais sem alma e
coração. Para nada serve o sal que perdeu a força e a luz que fica escondida
(cf. Mt 5, 13-16).
Não
basta mostrar a nossa concordância com os documentos do Concílio Vaticano II e
o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos como sua aplicação
catequética. É preciso fazer descer à prática quotidiana a riqueza dos seus
ensinamentos. Pelos frutos de caridade se conhece a árvore da nossa fé (cf. Mt
7, 17-20). É preciso que a nossa fé encarne num estilo de vida cristã, na
família e no trabalho, na vida social e política. Cristo exorta-nos à coerência
entre fé e vida real: «Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino
do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu» (Mt 7,
21). E São Tiago recorda-nos que «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26), é
inexistente.
Pôr em prática o Concílio
2. A convocação do Concílio Vaticano II deu-se 90 anos
depois da realização do Concílio Vaticano I, que foi interrompido repentinamente,
a 18 de dezembro de 1870, dadas as convulsões pela unificação de Itália. A 25
de janeiro de 1959, na Basílica de S. Paulo extramuros, João XXIII, eleito
apenas três meses antes, anunciou, inesperada e solenemente, a convocação de um
Concílio ecumênico. Tinha em mente não apenas «o bem-estar do povo cristão»,
mas também um convite às «comunidades separadas para a busca da unidade». Sem
consultas prévias aos Bispos da Igreja universal, como tinha feito Pio IX antes
da convocação do Concílio Vaticano I, João XXIII decide esta convocação «por
uma repentina inspiração de Deus», apelidando este Concílio como «flor
espontânea de uma inesperada primavera». A Igreja viveu «um novo Pentecostes»,
como chamou o mesmo Papa ao Concílio. Um dinamismo de renovação foi
experimentado na Igreja, aos mais diversos níveis e quadrantes geográficos.
O
Papa Paulo VI, na Carta apostólica em que declara encerramento o Concílio,
confirma e exorta ao seu cumprimento: «Foi o maior Concílio pelo número de
Padres, vindos de todas as partes da terra, mesmo daquelas onde só há pouco foi
constituída a hierarquia; foi o mais rico pelos temas que, durante quatro
sessões, foram tratados com empenho e perfeição; foi o mais oportuno, enfim,
porque tendo em conta as necessidades dos nossos dias, atendeu, sobretudo, às
necessidades pastorais e, alimentando a chama da caridade, esforçou-se
grandemente por atingir com afeto fraterno não só os cristãos ainda separados
da comunhão da Sé Apostólica, mas até a inteira família humana» (2).
A
Igreja de Cristo é hoje a Igreja do Concílio Vaticano II, que nos compete
continuar a aplicar com fidelidade criativa. Queremos dar graças a Deus por
este Concílio providencial que continua a inspirar a Igreja. No decurso do
movimento de renovação conciliar, ocorreram hesitações e desvios, que não se
podem atribuir a este evento de grandeza ímpar, que João Paulo II apelidou de
«seminário do Espírito Santo», aberto ao mundo. Felizmente a recepção do
Concílio Vaticano II deu-se entre nós de um modo globalmente positivo. A
celebração do presente aniversário deve levar-nos a um exame de consciência,
pessoal e comunitário, para vermos o que falta fazer para implementar o
espírito e a letra do Concílio.
Iniciativas pastorais para viver o Concílio.
3.
O Santo Padre quis fazer coincidir o início do Ano da Fé com a celebração do
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Assim, recordamos a
importância de integrar nos nossos planos pastorais as indicações gerais e as
propostas de ação que se encontram na citada Carta apostólica “Porta Fidei” do
Papa Bento XVI e na Nota com indicações pastorais para viver o Ano da Fé (3).
Os
Bispos exortam os agentes pastorais, a nível de dioceses, paróquias,
congregações, movimentos e os responsáveis das mais diversas instituições
eclesiais, que promovam o estudo, a reflexão e a aplicação do Concílio Vaticano
II, sobretudo dos documentos mais relevantes, as Constituições: “Lumen gentium”,
sobre a santa Igreja; “Sacrosanctum Concilium”, sobre a sagrada Liturgia; “Dei
Verbum”, sobre a Revelação divina; e “Gaudium et spes”, sobre a Igreja no mundo
contemporâneo.
Propomos
que as atividades e iniciativas programadas, como cursos, jornadas, pregações,
retiros, encontros, peregrinações, intervenções na comunicação social e a
própria oração, possam abordar temas na linha das efemérides celebradas.
Ao
mesmo tempo que celebramos o cinquentenário da abertura do Concílio,
comemoramos também o vigésimo aniversário da publicação do Catecismo da Igreja
Católica, que já tem uma edição adaptado aos jovens, o Youcat. O Santo Padre
Bento XVI recorda que «para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos
podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja
Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano
II» (4). Ler, estudar e dar a conhecer o Catecismo da Igreja Católica é, sem
dúvida, um modo muito recomendável de assimilar o espírito e a letra do
Concílio do século XX, de tanta atualidade ainda nos primórdios do século XXI.
Todos
precisamos examinarnos para ver o que o Espírito diz à Igreja, a fim de
continuar a experiência de Pentecostes do Vaticano II. O dinamismo de renovação
conciliar deve também passar pelo projeto em que está envolvida a Igreja nos
últimos tempos, no horizonte da nova evangelização.
Celebrar
o Concílio Vaticano II não significa recordá-lo em clima de nostalgia do
passado, mas revivê-lo e projetá-lo, na abertura ao futuro onde Deus nos
espera. Cabe-nos a missão de pôr sempre mais em prática o Vaticano II, um
Concílio com 50 anos de atualidade.
Fátima,
Portugal, 19 de abril de 2012
NOTAS:
1
- Bento XVI, Carta apostólica Porta Fidei, 2011.10.11, n. 5.
2 - Paulo VI, Carta apostólica In Spiritu Sancto,
1965.12.08.
3
- Congregação para a Doutrina da Fé, Nota com indicações pastorais para o Ano
da Fé, 2012.01.06.
4-
Bento XVI, Carta Apostólica Porta Fidei, 2011.10.11, n. 11.
Irmão Nery fsc
irnery@yahoo.com.br
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