Em
muitos lugares do Brasil, hoje, multidões se aglomeram para celebrar a
festa do Corpo e Sangue de Cristo. Essa celebração foi instituída na
Igreja pelo decreto do papa Urbano IV, em 1264, no qual se afirma que a
data deveria ser numa quinta-feira, 60 dias após a Páscoa cristã, de
modo que fosse feita a memória da instituição da eucaristia por Jesus.
Dessa forma, Corpus Christi tornou-se uma celebração de caráter
devocional, uma vez que a verdadeira festa da instituição da eucaristia
na Igreja é aquela da noite da Quinta-Feira Santa.
Na
origem da festa de Corpus Christi está a religiosa agostiniana – e,
mais tarde, santa – irmã Julian de Mont Cornillon. Conforme se difundiu
na Europa, essa religiosa teve uma visão divina que exigia a inclusão de
uma festa anual no calendário da Igreja para comemorar o sacramento da
eucaristia. Tudo começou em 1230, na paróquia de Saint Martin, em Liège,
Bélgica, onde se realizou uma procissão eucarística no interior da
igreja. Dezessete anos mais tarde, ela foi para as ruas e tornou-se
festa nacional na Bélgica. Em 1264, essa celebração do “triunfo
eucarístico” ganhou expressão mundial, sendo celebrada nas ruas, como
desejava o papa. O Concílio de Trento (1545-1563) – em resposta a
Lutero, que negava a transubstanciação como modo de explicar a presença
real de Cristo na eucaristia –, de certo modo, incentivou tais
manifestações para fazer frente às ideias luteranas.
Até
Trento, muitas discussões e polêmicas foram travadas em torno da
compreensão da “presença real” de Cristo na eucaristia e do modo como
esse sacramento era celebrado. Como é sabido, no início do cristianismo,
uma das dimensões mais acentuadas da eucaristia era a ação de graças da
comunidade, que se reunia para atender ao preceito do Senhor de
celebrar a memória de sua morte e ressurreição.
Na
Baixa Idade Média, o acento recai sobre o caráter milagroso, quase
mágico, da “consagração” do pão e do vinho, desvinculado do conjunto da
prece eucarística. Aqui, a dimensão de ceia pascal (comer e beber
juntos) cede à de adoração: basta ver a hóstia consagrada e adorá-la!
Vale recordar que, nessa época, a grande maioria dos fiéis já não
comungava durante a missa. A propósito, o termo “comunhão espiritual”
adveio dessa compreensão reducionista do mistério da eucaristia. Não
foram poucos os fiéis que receberam a comunhão eucarística apenas como
viático, ou seja, momentos antes da morte. Dessa feita, em compensação,
expandiu-se rapidamente o costume de promover grandes celebrações
devocionais de adoração ao Santíssimo Sacramento, incluindo solenes
procissões.
Após
o Concílio Vaticano II, sem renegar a dimensão sacrifical da
eucaristia, a teologia recupera sua dimensão de ceia pascal, de memorial
da paixão e morte de Cristo. Novamente, o acento recai sobre a
importância dos fiéis reunidos, que, comungando do Corpo e Sangue de
Cristo em cada celebração eucarística, buscam conformar a vida ao corpo
eclesial de Cristo.
Não
é à toa que na segunda epiclese da prece eucarística se pede que,
comungando do Corpo e Sangue de Cristo, todos se tornem um só corpo. Em
outras palavras: a comunidade celebra a eucaristia para cada vez mais se
tornar autêntico corpo eclesial. Para que isso aconteça, é
indispensável que os participantes da celebração comam do mesmo pão e
bebam do mesmo cálice transubstanciados no Corpo e Sangue do Senhor e
assim formem com ele um só corpo.
As
leituras que ouvimos hoje nos oferecem os fundamentos bíblicos para a
nossa fé na eucaristia como presença real de Cristo no pão e no vinho,
alimentos da comunidade que deseja se tornar verdadeiro corpo eclesial.
(Fonte paulus)
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