Décimo Primeiro Domingo Comum (17.06.09)
Mc 4, 26-34
“Com que coisa podemos comparar o Reino
de Deus?”
O texto de hoje traz à tona dois elementos muito
importantes para o estudo dos Evangelhos - “o Reino de Deus” e “as parábolas”.
Antes de olhar o texto mais de perto, convém comentar algo sobre esses dois
termos ou conceitos.
Existe um consenso entre os estudiosos modernos, sejam
católicos ou protestantes, que existem dois termos nos textos evangélicos que
provém do próprio Jesus e que não dependem da reflexão posterior das
comunidades, ou seja, “Reino” e Abbá”. Estamos tão acostumados de ter Jesus
como “objeto” da pregação que esquecemos que Ele não pregou a si mesmo, mas o
“Reino de Deus” (geralmente citado em Mateus como o Reino dos Céus, para evitar
o uso do nome de Deus). Toda a vida de Jesus foi dedicada ao serviço desse
Reino, que Ele nunca define, pois é uma realidade dinâmica, mas que Ele
descreve por comparações, usando parábolas. “Parábola” é um tipo de comparação,
usando símbolos e imagens conhecidos na vida dos ouvintes, e que os leva a
tirar as suas próprias conclusões (de fato, várias vezes temos a explicação de
uma parábola nos evangelhos, mas, essa nasceu da catequese da comunidade e não
teria feito parte da parábola original). O Capítulo 13 de Mateus talvez seja o
melhor exemplo do uso de parábolas para clarificar a natureza do Reino - ou
Reinado - de Deus.
No tempo de Jesus e
das primeiras comunidades cristãs, os diversos grupos religiosos judaicos
esperavam a chegada do Reino de Deus e achavam que poderiam apressar a sua
chegada - os fariseus através da observância da Lei, os essênios através da
pureza ritual, os zelotas, através de uma revolta armada. O texto de hoje nos
adverte que não é nem possível, nem preciso, tentar apressar a chegada ou o
crescimento do Reino de Deus, pois ele possui uma dinâmica interna de
crescimento própria. Como a semente semeada cresce, independente do semeador e
sem que ele saiba como, assim o Reino cresce onde plantado, pois também tem a
sua própria força interna que, passo por passo, vai levá-lo à maturidade.
Assim, o texto nos ensina o que Paulo vai ensinar de uma maneira diferente aos
coríntios, quando, referindo-se ao trabalho de evangelização desenvolvido por
ele, Apolo e outros/as missionários/as; ele afirma “Paulo planta, Apolo rega,
mas é Deus que faz crescer” (1Cor 3, 6).
Uma das imagens que Jesus usa para caracterizar o
Reino é a do grão de mostarda. Embora a semente seja minúscula, ela cresce até
se tornar um arbusto frondoso. Assim Jesus quer que a gente relembre que é
importante começar com ações pequenas e singelas, pois, pela ação do Espírito
Santo, elas poderão dar frutos grandes. Esta parábola é um lembrete para que
não caiamos na tentação de olhar as coisas com os olhos da sociedade dominante,
que valoriza muito a prepotência, o poder, a aparência externa. A nossa vocação
é plantar e regar, nunca perdendo uma oportunidade de semear o Reinado de Deus
- ou seja, criar situações onde realmente reine o projeto do Pai, projeto de
solidariedade e amor, partilha e justiça, começando com sementes minúsculas,
para que, não através do nosso esforço, mas da graça de Deus, eventualmente
cresça uma árvore frondosa que abriga muitos. O desafio do texto é de que
valorizemos o gesto pequeno, as duas moedas da viúva, a semente de mostarda,
não nos preocupando com os resultados, mas, confiantes no poder transformador
da semente, plantar e regar, para que Deus possa ter a colheita!
Pe. Tomaz Hughes,
SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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