No episódio do apedrejamento da mulher adúltera, Jesus achou
um modo original de defendê-la. Ele disse: Aquele que não tiver pecado atire a
primeira pedra. E não sobrou um com pedra na mão... A frase de Jesus é tão
sábia que passou para a linguagem comum, sendo usada até por pessoas que nem
tem religião. É que falhas existem em todos os grupos e pessoas e quem
reconhece seus erros está em melhores condições de compreender o próximo.
Isso vale
também para as relações ecumênicas. Às vezes encontro pessoas que se recusam a
ouvir falar de ecumenismo porque já vivenciaram algum episódio em que se
sentiram rejeitadas, ofendidas por cristãos de outras Igrejas. Mas será que
eles também não poderiam dizer o mesmo de muitos de nós? E por causa disso
vamos continuar pondo lenha nessa fogueira e contrariando o pedido de Jesus e a
orientação da nossa própria Igreja?
Há quem
ache que pedir perdão é algo humilhante, que seria se reconhecer como alguém
que tem menos valor. Mas, como Jesus bem percebeu no caso da mulher
adúltera, todos temos falhas; então,
saber reconhecê-las é, ao contrário, um sinal de maturidade e de grandeza de
coração.
Por isso a
nossa Igreja, sem medo e consciente do seu próprio valor, é capaz de fazer uma
declaração assim:
Das culpas, também contra a unidade, vale o
testemunho de São João: “Se dissermos que não temos pecado, fazemo-lo de
mentiroso e sua palavra não está em nós” (1 Jo 1,10). Por isso pedimos
humildemente perdão aos irmãos separados, assim como também perdoamos aos que
nos têm ofendido. (Unitatis Redintegratio 7)
O mesmo
texto diz que “sem a conversão interior
do coração não há verdadeiro ecumenismo.”
UR 7
Por que Jesus faz tanta questão
de nos ensinar a prática do perdão? Ele manda perdoar setenta vezes sete, dar a
outra face, caminhar uma milha a mais com o outro. Será que ele quer nos
transformar em covardes vítimas de todo tipo de abuso? Ou ele está nos
convidando para uma coragem maior ainda, capaz de desarmar com grandeza quem
pensou em nos ofender? A maior vitória
possível numa guerra é conseguir que não haja guerra! Isso funciona em todos os
campos das relações humanas. Não há vitória maior do que, sinceramente, sem
outras intenções ocultas, transformar o inimigo em amigo, porque aí, além de os
dois lados serem vitoriosos, cria-se um clima de fraterno relacionamento que
vai beneficiar mais gente.
Em tempos
como hoje, em que, por exemplo, o bullying corre solto nas escolas e os jovens
são pressionados a ter prazer ofendendo outros, trabalhar na catequese a beleza
do perdão mútuo entre cristãos e Igrejas que se separaram e construíram sua
identidade no confronto é trabalho capaz de produzir muitos efeitos colaterais
benéficos. É uma educação para a paz, para a valorização da amizade, para o
crescimento imenso que vem de saber perdoar e ter coragem de pedir perdão.
A situação
que as Igrejas vivem hoje é consequência de uma história de séculos vividos com
outra mentalidade. Agora temos condições de transformar esse caminho, mas é
preciso construir novos mapas para essa estrada e, para isso, a catequese é um
instrumento indispensável.
Therezinha Cruz
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