DÉCIMO
QUARTO DOMINGO COMUM (08.07.12)
Mc
6, 1-6
O
texto de hoje encerra o segundo bloco da primeira parte do Evangelho de Marcos
- que trata da cegueira dos familiares de Jesus. O primeiro bloco (I,14-3,6)
mostrou a cegueira das autoridades, e o próximo bloco mostrará a cegueira dos
discípulos. Assim, Marcos gradativamente aumenta a tensão entre o que Jesus é e
a incompreensão dos que o conhecem: autoridades, familiares e discípulos. Tudo
para poder lançar como questão fundamental do seu Evangelho a pergunta: “E
vocês, quem dizem que eu sou?” (Mc 8, 29).
De uma maneira indireta, Marcos aqui
toca em um dos problemas fundamentais dos cristãos - o escândalo da encarnação.
Freqüentemente não temos tanta dificuldade em assumir a realidade da divindade
de Jesus, mas sim, a sua humanidade! Até hoje, quantas hipóteses esdrúxulas
sobre onde Jesus teria passado os primeiros trinta anos da sua vida, quando a
realidade é que Ele os passou como qualquer outro rapaz da sua geração – em uma família e comunidade do interior,
trabalhando com as mãos e partilhando a dura sorte do seu povo, com uma fé
profunda na presença de Javé no seu meio - uma fé alimentada pelas Escrituras.
Mas, freqüentemente relutamos para não enxergar a opção real de Deus pelos
marginalizados através da realidade da encarnação!
Os
seus próprios parentes também não queriam aceitar a pessoa e a missão de Jesus.
Marcos não esconde a dureza das críticas: “Esse homem não é o carpinteiro, o
filho de Maria?” (v. 3). Se fosse um fariseu, ou um “doutor”, ele teria sido
aceito! Quanta coisa semelhante hoje - quando preferimos acreditar nas palavras
e retórica dos “doutores” e desprezamos
a sabedoria popular dos que lutam no meio do povo para um mundo mais justo!
Marcos
retoma aqui o tema da primeira parte do Evangelho - que o caminho para conhecer
Jesus não é através de uma corrida atrás de milagres. Pois, os Nazarenos
conheciam bem os milagres de Jesus: “E esses milagres que são realizados pelas
mãos d’Ele?” (v. 2). Aqui tocamos no cerne da questão: em Marcos, Jesus nunca
faz um milagre para despertar a fé em alguém. Pelo contrário, é a fé das
pessoas que causa os milagres da parte de Jesus. Por isso, é importante notar o
verbo que Marcos usa: “E Jesus não pôde
fazer milagres em Nazaré!” (v. 5). Não foi que não quisesse, nem que não
fizesse milagres, mas que Ele não pudesse fazer! Por que? Por causa da falta da
fé deles!
O
texto nos desafia para que nos questionemos sobre o Jesus em quem acreditamos!
Conseguimos vê-Lo nos pequenos e humildes e nas pequenas ações em favor do
Reino? Ou o buscamos em ditos “milagres” e coisas estrondosas, que muitas vezes
podem mascarar uma relutância em assumir o caminho da Cruz? Marcos quer
suscitar uma desconfiança na sua comunidade - se nem as autoridades e nem os
parentes de Jesus o compreenderam, será que nós O compreendemos? Devagarzinho
chegaremos ao Capítulo 8, o pivô de Marcos, onde seremos convidados a responder
a pergunta fundamental da nossa fé: quem é Jesus para mim, para nós, hoje?
Tomaz Hughes SVD
thughes@netpar.com.br
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