Monsenhor Sebastião Bezerra de Oliveira |
Eu considero que a primeira reflexão
deve ser sobre o caráter estritamente sobrenatural do chamado de Deus: foi Ele
quem tomou a iniciativa sobre o novo rumo que as vidas dos vocacionados
tomarão. Porque não são os vocacionados que escolheram a Cristo, mas sim foi
Cristo quem, de uma maneira especial, escolheu-os para que vão por todo o mundo
e levem frutos de santificação e de autêntica vivência cristã, e para que todos
os frutos permaneçam como um sinal clarividente da intervenção divina (Cf. Jo
15,16).
A vocação sacerdotal e consagrada se
apresenta por isso como uma eleição providente de Deus, profundamente gratuita,
imprevista e desproporcionada a nossos cálculos e possibilidades humanas.
A vocação sacerdotal é o maior
presente que Deus pode depositar nas almas. Do mesmo modo que chamou Pedro,
Tiago, João... e foi-lhes dizendo: 'Vem e segue-me', um dia Cristo fixou seu
olhar em um homen e disse: 'N., N.,N.,... vem, que eu te farei pescador de
homens'. Ninguém respondeu ao sacerdócio por ação humana, mas porque o próprio
Cristo no interior de suas almas pronunciou seu nome e os convidou a segui-lo.
É um convite a grandes coisas: o que é melhor que ser embaixador do próprio
Deus?
Cristo tem necessidade de cada um dos
sacerdotes, como teve de Pedro, de Tiago e de João. Os sacerdotes são as mãos,
os pés, os olhos, a mente, o coração de Jesus Cristo; são os canais e os meios
pelos quais Ele vai comunicar-se à humanidade.
Que honra! Que doce o peso que Ele
coloca sobre ombros de cada sacerdote: é o peso imponderável da Redenção, na
qual se contém a felicidade pessoal e eterna de cada homem.
Chamado que respeita a Liberdade
Deus respeita em sua integridade o
homem e quando chama uma alma a seu serviço, em seu solene poder, nem a
violenta, nem a intoxica, mas, com a paciência e amor que em sua revelação
podemos contemplar em Jesus, deixa-a quase andar à deriva ou ao sabor das
circunstâncias normais que trazem consigo esses processos e situações, e que em
seus altos e baixos mal controlados poderiam inclusive determinar a decisão
fundamental da alma e comprometer seu desígnio.
Há muitos homens que Deus nosso
Senhor preparou amorosamente desde toda a eternidade para que sejam sacerdotes;
há muitos homens que Deus chamou para serem sacerdotes; mas nem todos
correspondem ao chamado de Deus, porque o chamado de Deus não implica o
esmagamento da liberdade da pessoa humana; Deus sempre deixa a liberdade de
seguí-lo ou não segui-lo. Cada homem chamado ao sacerdócio é livre,
absolutamente livre; cada um deles pode responder a Deus: sim ou não.
Chamado que exige uma resposta
pessoal.
Deus chama a cada homem ao sacerdócio
para que ele responda; chama a cada um, como pessoa. E a resposta a Deus é uma
resposta pessoal. Nunca posso me escusar na falta de generosidade dos outros
para justificar minhas atitudes. No caso de que os demais não viverem o
cristianismo, de não se entregaram com entusiasmo ao trabalho apostólico, eu
não tenho nenhum motivo para ficar atrás... Já dizia a Bíblia: 'Ainda que caiam
dez mil à tua direita e dez mil à tua esquerda, tu segue adiante'.
Chamado que implica Santidade
A missão de cada sacerdote é clara e
precisa: a santidade urgente! Temos por vocação que nos esforçar para adquirir
a consciência de que hoje e amanhã ensinaremos nossos irmãos como ser santos.
Alter Christus (Outro Cristo): glorificador do Pai e salvador de almas.
Ser Padre é... Atingir a alegria da
vida religiosa Viver com entusiasmo os ensinamentos de Cristo. Propagar o amor
fraterno. Promover a partilha na comunidade. Ser mensageiro da Boa Nova. Fazer
opção pelos mais desfavorecidos. Alimentar a fé na presença viva de Jesus na
Eucaristia. Como Moisés, abrir caminhos de esperança. Dar glória a Deus, nosso
criador. Buscar a santificação segundo o exemplo de Cristo. Agir contando com a
força do Espírito Santo. Carregar com amor a Cruz de cada dia. Sofrer pela
salvação da humanidade. Ser padre é... como diz a canção: Amar como Jesus amou,
Viver como Jesus viveu, Sentir o que Jesus sentia.
Padre quer dizer pai. Do Latim,
pater/patris = pai - o padre é o pai da comunidade. Aquele que acolhe, ouve,
aconselha, orienta, adverte, corrige, quando necessário e alimenta de esperaça
os fiéis. O padre também é conhecido como sacerdote, ou então, como presbítero.
O padre é sacerdote (em Latim, sacer
= sagrado + dos = dom). Eleoferece a Deus o sacrifício da Eucaristia, memória
da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. É presbítero (em Grego, presbyteros,
significa ancião, idoso, experiente) porque como um irmão mais velho, orienta
com sabedoria, seus irmãos mais novos, sempre buscando conduzi-los para a
maturidade da fé.
Ser padre não é uma profissão, algo
que escolhemos, que depende apenas e exclusivamente da decisão da pessoa. Ser
padre é vocação. É Deus quem chama os homens para entregarem suas vidas a
serviço do Reino. O padre é chamado para ser no mundo uma presença viva de
Cristo. Assim, o padre torna-se um “outro Cristo”.
Uma pessoa passa a ser padre a partir
da ordenação sacerdotal. É o sacramento da Ordem, ministrado pelos bispos. A
partir da ordenação, o padre torna-se um cumpridor do mandato de Cristo: Fazei
isto em memória de mim (Lucas 22,19).
Ser padre é um mistério, algo que a
razão tem dificulade de explicar. O padre é alguém que foi tirado do meio do
povo, consagrado e devolvido ao povo para servi-lo. Por meio de suas ações, o
padre deve fazer transparecer o modo de agir de Cristo, como se fosse Cristo
mesmo agindo no mundo.
Para fazer com que os fiéis cheguem à
maturidade da fé, os padres batizam, perdoam os pecados através do sacramento
da Penitência, são testemunhas da Igreja nos sacramentos do Matrimônio e da
Unção dos Enfermos. Mas o mais importante é: a cada dia, os padres renovam o
sacrifício de Cristo, a Eucaristia, alimento para sua vida e para a dos fiéis
(Decreto Presbyterorum Ordinis, sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros,
nº. 5).
No entanto, nunca poderemos nos
esquecer de que o padre é passível de erros, falhas, limitações e pecados.
Enfim, o padre é um ser humano! Mas um ser que busca a graça de Deus, que quer
dividir a alegria do seguimento de Cristo com seus irmãos e irmãs.
É preciso tomar muito cuidado com a
missão que Deus nos confiou, todos nós ministros do Senhor, um dia haveremos de
prestar contas á Deus das ovelhas que ganhamos ou perdemos, pois somos pastores
de almas. Ser Sacerdote é manter-se fiel ao chamado, não devemos tomar o lugar
de Deus, não devemos ser juízes. Ele é o divino Juíz, não podemos usar este dom
gratuito para fins lucrativos pois o Senhor mesmo nos lembra: “Daí de graça o que de Graça recebeis”.
*Texto Reflexão escrita, Dom Francisco Rodrigues.(Bispo Diocesano do Rio Grande do Norte).
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