O maior número de
mártires, em toda a história da Igreja Católica, vem do século XX.
Entre os muitos martírios, encontramos os da Revolução Bolchevista Russa
(1917), da Revolução Espanhola (1930) e o da Guerra Civil Espanhola,
intitulada ‘Cristiada’ (1926-1929), na qual muitos cristãos foram
martirizados. O filme ‘Cristiada’, rodado no México, mostra a realidade
desconhecida por muitos católicos e é o filme mais assistido no país,
mostrando o testemunho impressionante dos mártires. Maurício Kuri, um
jovem ator de quatorze anos, interpreta o mártir mexicano José Luis
Sánchez del Rio, o qual foi mártir na mesma idade. O ator está
convencido de que os católicos devem, hoje, defender a liberdade
religiosa como fizeram os cristeros, em 1926, no México. Ele disse que
gostaria de fazer a mesma coisa, “porque defender o que nós acreditamos é
a coisa mais importante”. Ele incentivou os católicos de todo o mundo a
defender a liberdade religiosa, como fizeram os fiéis do México durante
a Guerra Cristera”.
“O que está acontecendo, hoje, com a Igreja, diante dos ataques à
liberdade religiosa, é algo que acontecerá no final dos tempos. Sou
católico e não me envergonho, estou orgulhoso de sê-lo e de defender o
Cristianismo. Há uma frase, no filme, que eu adoro: Quem é você se não
se levanta e se põe de pé para defender o que acredita?” . ‘Cristiada’
narra a história da Guerra Cristera, no México, desatada pela legislação
anticlerical de 1926 e pela perseguição contra a Igreja Católica pelo
então presidente Plutarco Elías Calles. As leis proibiram as ordens
religiosas, suprimiram a Companhia de Jesus e seus colégios, impuseram a
deportação e o encarceramento dos bispos ou sacerdotes que
protestassem. Privaram a Igreja dos direitos de propriedade e negaram
liberdade civil aos sacerdotes, incluindo o direito a um julgamento com
um jurado e o direito a voto. A cristandade mexicana sustentou uma luta
de três anos contra os sem-Deus da época. Os laicistas da Reforma
impuseram a liberdade para todos os cultos, exceto o católico, submetido
ao controle do Estado. O Papa Pio IX condenou essas medidas, assim
como Pio XI expressou sua admiração pelos “cristeros”. Um mês depois,
este Pontífice publicou a encíclica “Iniquis afflictisque”, na
qual denunciou as agressões sofridas pela Igreja no México: ”Já quase
não resta liberdade alguma à Igreja [no México], e o exercício do
ministério sagrado se vê de tal maneira impedido, que é castigado, como
se fosse um delito capital com penas severíssimas”. O Papa elogiou, com
entusiasmo, a “Liga Nacional Defensora de la Libertad Religiosa”,
espalhada “por toda a República, na qual seus membros trabalharam,
assiduamente, com o fim de ordenar e instruir a todos os católicos para
opor aos adversários uma frente única e solidíssima”. Ele se comoveu
ante o heroísmo dos católicos mexicanos: “Alguns destes adolescentes,
destes jovens — como conter as lágrimas ao pensá-lo — foram lançados à
morte com o rosário na mão, ao grito de: “Viva Cristo Rei!”. Inenarrável
espetáculo que se oferece ao mundo, aos anjos e aos homens”. López
Beltrán, considerando os anos 1926-1929, dá o nome de 39 sacerdotes
assassinados, de um diácono e seis religiosos. Guillermo Havers nomeia
os 46 sacerdotes diocesanos executados no mesmo período de tempo
(“Testigos de Cristo en México, 205-8”). Muitos desses padres pertenciam
à arquidiocese de Guadalajara ou à diocese de Colima. Em 22 de
novembro de 1992, João Paulo II beatificou vinte e dois desses
sacerdotes diocesanos mártires, destacando que “sua entrega ao Senhor e à
Igreja era tão firme que, ainda tendo a possibilidade de se ausentar de
suas comunidades durante o conflito armado, decidiram, a exemplo do Bom
Pastor, permanecer entre os seus para não privá-los da Eucaristia, da
Palavra de Deus e do cuidado pastoral”. A Conferência do Episcopado
Mexicano, no livro “Viva Cristo Rei!” (México, 1991), dá-nos biografias
dos 25 mártires que foram beatificados. “A solenidade de hoje [Cristo
Rei]”, destacada por João Paulo II na cerimônia de beatificação,
instituída pelo Papa Pio XI, precisamente quando era mais vigorosa a
perseguição religiosa do México, penetrou muito fundo naquelas
comunidades eclesiásticas e deu uma força particular a esses mártires,
de maneira que, ao morrer, muitos gritavam: ‘Viva Cristo Rei!’”. A
todos se deve acrescentar o nome do padre jesuíta Miguel Agustín Pro
Juárez, beatificado pelo Papa João Paulo II em 25 de setembro de 1988.
Por ocasião de um atentado contra o presidente Obregón, foram
aprisionados e executados os autores do golpe, e, com eles, também
eliminados o Padre Pro e seu irmão Humberto, os quais eram inocentes
(23-11-1927). Robert Roya, em “The Catholic Martyrs of The Twentieth
Century” (pag.17-18) [Os mártires católicos do século XX] traz um relato
impressionante: “Dos mártires daqueles dias, nenhum chamou tanto a
atenção do público, no México e no resto do mundo, como o Jesuíta Miguel
Agustín Pro. Este foi morto por um pelotão de fuzilamento em frente das
câmeras dos jornais que o governo trouxera para gravar o que esperava
ser o constrangedor espetáculo de um padre implorando por misericórdia.
Foi uma das primeiras tentativas modernas de usar a mídia para a
manipulação da opinião pública com propósitos antirreligiosos. Mas, ao
invés de vacilar, Pro demonstrou grande dignidade, pedindo apenas a
permissão de rezar antes de morrer. Após alguns minutos de prece,
levantou-se, ergueu seus braços em forma de cruz – uma tradicional
posição de oração mexicana – e, com voz firme, nem desafiante nem
desesperada, entoou, de forma comovente, palavras que, desde então,
tornaram-se famosas: ‘Viva Cristo Rei’. “Longe de ser um triunfo da
propaganda para o governo, as fotografias da execução de Pro tornaram-se
objeto de devoção católica no México e de constrangimento do governo
por todo o mundo. Oficiais tentaram suprimir sua circulação, declarando a
mera posse de tais fotos um ato de traição, mas não obtiveram sucesso.”
“Dios mío, ten misericordia de ellos. Dios mío, bendícelos. Señor, tu
sabes que soy inocente. Con todo mi corazón perdono a mis enemigos”
[Deus meu, tende misericórdia deles. Deus meu, abençoai-lhes. Senhor, tu
sabes que sou inocente. Com todo meu coração, perdoo a meus inimigos].
“O pelotão dispara. Ouve-se ainda as últimas palavras de Pro, firmes,
devotas: “Viva Cristo Rei!”. Eis o brado dos cristeros. Futuramente, o
exército callista cortaria a língua dos mártires para que, ao morrer,
não confessassem Cristo”. “Pro cai, mas não morre. Um soldado
aproxima-se dele e lhe dá o último tiro”. Podemos dizer por padre Pro:
“Muero, pero Dios no muere!” [Morro, mas Deus não morre!]. Professor
Felipe Aquino
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