Gente
amada, não adianta espernear, porque mais um ano está chegando ao seu
final... Num piscar de olhos, entra Novembro e já é Natal... E como toda
festa gera uma preparação, já é tempo de começar a ensaiar as peças
teatrais de Natal. Tem já uns sete anos, fizemos essa peça na preparação
com as crianças e achei bem legal, porque fugiu um pouquinho daquela
coisa tradicional. Só que sumi com a peça e agora que minha companheira
de guerra(Angela Rita) encontrou, vamos ensaiar para apresentar nesse
ano. Fiz e recomendo! Vamos lá, escolha os atores e mãos à obra moçada!!
Fazer a retratação do ambiente onde Jesus nasceu é muito importante,
tanto é que São Francisco de Assis, com o intuito de evangelizar montou o
primeiro presépio vivo em 1223. Sigamos os passos desse nosso espelho
de Catequista. Beijo grande!
Imaculada
(Na foto Tais, minha filha amada aos seus 13 pra 14 anos e Danilo Andrade)
O BOI E O BURRO A CAMINHO DE BELÉM.
CENA 1
(Surgem o Boi e o Burro, ao ritmo da música(Berceuse)
dançando, descontraídos) e examinando o ambiente. Ao terminar a música, eles se
colocam de cada lado do palco)
BOI: Muuuuuu!!! (mugindo).
BURRO: Hiiiiiiiii!!! (relinchando).
BOI: Burro, ei Burro. Você está notando qualquer coisa
hoje?
BURRO: Não estou notando nada, não, Boi!
BOI: Você é mesmo muito burro, hein amigo? Então não está
vendo que tudo está meio mudado?
BURRO: (cheirando o ar). É verdade, amigo
Boi. Tudo cheira diferente por estas bandas (cheirando com barulho).
BOI: (olhando o céu). E nunca o céu esteve tão estrelado,
tão perto! (continua olhando o céu, e o Burro faz o mesmo).
BURRO: Não é que é verdade, amigo Boi, não
é que é verdade? Sou mesmo muito burro... não tinha notado antes. Está tudo
muito esquisito!(mudando de tom e olhando assustado para o Boi). Será que o
mundo vai acabar, hem, Boi?
BOI: Talvez comece um outro mundo!
BURRO: (triste): E nós? Haverá pastagens
para nós dois no outro mundo?
BOI: Sei não! (Enquanto isso, mais um susto...)
CENA 2:
(Entra a estrela de Belém, lentamente aos som
de uma música natalina. Ela segura uma grande estrela de papelão nas mãos. O Boi
e o Burro vão seguindo a estrela com os olhos)
BOI: Éhhhhh... esse lugar que era quieto,
silencioso... agora... (Ouve-se a flauta
do Pastor. O Boi e o Burro olham espantados para o Pastor que toca a flauta de bambu,
olhando para o céu).
PASTOR: (Já no palco parando de tocar
olhando para o céu). Oh! (nesse momento a estrela de Belém fixa a estrela de
papelão bem em cima do estábulo e sai de cena)
BURRO: (Seguindo o olhar do Pastor). Oh!
BOI: (idem).
PASTOR: A estrela parou.
BURRO: Parou.
BOI: Bem em cima.
OS DOIS: ... do nosso estábulo.
PASTOR: (Sempre fitando a estrela). Grande como um girassol!
BURRO: Única no céu distante!
BOI:
Com o brilho de mil estrelas...
OS TRÊS: Nunca se viu outra igual!
BOI: (Aflito). Pastor, explica! Explica por que a estrela
parou bem em cima do nosso estábulo!?
PASTOR: Mistério! Mistério, amigo Boi.
Mistério que um pobre pastor não pode desvendar.
BOI: Nem eu...
BURRO: (Triste). Nem eu...
(O Pastor
recomeça a tocar a flauta e sai dando uma volta por trás do estábulo,
desaparecendo pela esquerda, ao fundo).
BOI: (Muito aflito, e ainda olhando para
o céu). Burro! Ei burro!
BURRO: Que é boi?
BOI: (Aproximando-se bem do Burro, e
falando quase em segredo). Estou muito desconfiado.
BURRO: De que Boi?
BOI: (Cheio de mistério). De que ele vai nascer aqui.
BURRO: (Escandalizado). Nem digo isto,
Boi. Numa estrebaria tão suja. Tão pobre.
BOI: Então por que tudo isto? Por que a
estrela parou bem em cima?...
BURRO: (Rápido). A estrela deve ter se
enganado.
BOI: (Correndo o estábulo). E este cheiro tão doce por
toda a parte...
BURRO: (Chegando para a cesta de capim
encostada ao estábulo). Até o capim nosso de cada dia, cheira bem hoje...
(Corre e diz à platéia, assustado). Onde já se viu
isto? Pensar que ele ia nascer aqui... (Dá um salto, indo para o meio da cena,
e indo nervosamente).
BURRO: (Assustado com a explosão do Boi, e
segurando-o). Fica quieto, Boi. É bom irmos arrumando as coisas por aqui! (pega
uma vassoura) Vamos fazer uma limpezinha, porque no caso de acontecer...
BOI: É mesmo (pega um pano e começa a
limpar tudo, inclusive o rabo do burro e a própria cara) Vou buscar palha seca
e fofa! (Eles saem e tornam a voltar segurando um pouco de palha. Cada um puxa
a palha para seu lado e brigam)
BURRO: NÃO empurra, sou eu que arrumo!
BOI: Sou eu Burro, Sou eu! Saia Sou eu que quero arrumar
a palhinha para o Menino!
CENA 3 – ANJOS
(Ouvem-se
vários sininhos que vão aumentando de volume. Entram os anjinhos. Um, segurando
uma vassoura prateada e bailando, vai varrendo a cena. O segundo carrega um
jarro de água e o terceiro, uma bacia. Eles se encontram no meio do palco e o
segundo anjo despeja água na bacia que é colocada perto da manjedoura. Dois
outros, pegam as palhas espalhadas pelo Boi e pelo Burro, arrumando-as na
manjedoura. O primeiro e o segundo anjos trazem uma toalhinha branca e
colocam-na sobre as palhas. O terceiro anjo entra com um turíbulo, incensando
todo o ambiente, inclusive o Boi e o Burro. Os anjinhos entram e saem num
movimento contínuo e na ponta dos pés, como se dançassem. Durante toda a cena,
os animais ficam estarrecidos, parados, um de cada lado, do palco. Quando o
último anjinho sai, cessam os sininhos e o boi e o burro aproximam-se do
estábulo)
CENA 4
( O boi e o
burro observam a transformação do ambiente)
BURRO: Eles vieram arrumar...
BOI: Tudo está tão limpinho...
BURRO: (Desconsolado, dirige-se para a
platéia e encosta a cabeça em algum lugar, como se estivesse chorando)
BOI: O que é burro?
BURRO: E nós, pobres bichos, que queríamos
fazer este trabalho...
BOI: (triste): Quanta pretensão!
BURRO: Não percebemos que isto era
trabalho para anjos e não para um boi babento...
BOI: Nem para um burro sujo
BURRO: (conciliador) Deixa pra lá, Boi!
Não vamos brigar hoje. (aproximando-se do estábulo) Tudo está pronto!
BOI: Só falta acontecer... E só nós dois aqui...
BURRO: Um burro!
BOI: um boi!
OS DOIS: Pra tamanho acontecimento!
CENA 05 – MARIA E JOSÉ
(Ao som de
uma musica, entram José e Maria, este
levando Jesus debaixo do manto invisível, enquanto caminham até o palco –
Música baixa, enquanto o Burro e o Boi falam).
BOI: Oh!
BURRO: Oh!
BOI: (Ternamente, mas solene). Lá vem
Maria lentamente carregando o mistério.
BURRO: Parece leve como a brisa.
BOI: Parece uma gota no capim da manhã.
BURRO: Lá vem José.
(Quando José
e Maria chegam bem perto do estábulo, aumenta-se o volume da música. Quando
entram no estábulo, cessa a música e sinhôs começam a soar. Os anjinhos chegam
na ponta dos pés e, sempre bailando, fazem um círculo em torno de Maria. Eles
escondem Maria que, de costas para o público, coloca o Menino Jesus na
Manjedoura. Os anjinhos continuam a dançar, enquanto Maria e José se colocam na
posição clássica do presépio. Ela ajoelhada e ele, no outro lado, de pé,
apoiado no cajado. Os anjinhos vão se afastando e saem, sempre dançando. Um
foco de luz cai sobre o Menino. Música durante toda a cena. O Boi e o Burro ficam
num canto, só assistindo)
CENA 07
(O boi e o
Burro aproximam-se na ponta dos pés)
BOI: Que maravilha!
BURRO: (puxando o Boi) Não se aproxime
tanto! Não é bom que ele veja logo nossas caras feias...
BOI: Tem razão! Ele pode se assustar! (Maria sorri para
eles)
BURRO: (Emocionado): A mãe dele está
sorrindo!
BOI: Pra quem? Para nós dois?
BURRO: Éééé´! Só pode ser pra nós dois?!
(Eles começam a pular de alegria. Maria sorri de novo e eles vão se aproximando
com cuidado)
BOI: Acho que ele ta com frio??
BURRO:
Pois então, aqueça ele com seu bafo quente neh Boi!
BOI: (experimentando o bafo na mão) Boa
idéia, Burro. Até que você ficou menos burro!
BURRO: E eu, com meu rabo, espanto as
moscas
(Eles
dirigem-se para a platéia e diz)
BOI: Nunca imaginei ser mais do que um
boi!
BURRO: E eu então? Tão burro... Tão
burro... Nunca imaginei... Nós dois, um boi e um burro, ligados para sempre ao
mistério.
CENA 08
(O boi e o
burro afastam-se lentamente até se colocarem nas posições clássicas do
presépio, cada um de um lado, atrás do Menino Jesus. Ao som de NOITE FELIZ,
pastores e pastoras, entram pelo meio do teatro, depois, os reis magos com seus
presentes. Todos se ajoelham para adorar o Menino. O público pode ser orientado
com antecedência para também trazer suas ofertas, que serão colocadas num cesto
à frente do presépio vivo e, mais tarde doadas a irmãos carentes.)
(Essa peça é
uma adaptação da obra e Maria clara Machado. O texto original encontra-se no
livro Teatro I da coleção “teatro” – editora Agir)
Personagens:
Boi, Burro, estrela, Cinco anjinhos, Maria, José ,Três Reis Magos, Pastor.
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Veja um pouco da História dessa peça...
“O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, texto de Maria Clara Machado.
Escrita
em 1953, a peça é a estreia da autora escrevendo para o público
infantil. O auto de natal, pensado, a princípio, para o teatro de
bonecos, acabou adaptado para ser interpretado por atores. As melodias
natalinas, sugeridas pela própria autora, marcam seu interesse em dar à
música um papel de destaque em suas peças.
Montagem da peça em 1953 (Foto: Divulgação)
“O
Boi e o Burro a Caminho de Belém” narra a história do nascimento de
Jesus Cristo pelo ponto de vista do Boi e do Burro, duas personagens que
estão presentes no tradicional presépio. Empregando uma linguagem
simples, a dramaturga supõe como teria sido a separação do estábulo e
como o nascimento do Filho de Deus fez com que o mundo se preparasse
para recebê-lo.
Personagens
reais e fictícios, como pastoras, reis magos, rainhas magas, anjos, o
povo e a Estrela se misturam à frente dos dois animais, até que, com a
chegada de Maria, José e do menino Jesus, a montagem de um presépio vivo
se completa.
A
peça foi encenada pela primeira vez, em 1953, pela própria Maria Clara –
com O Tablado, grupo fundado por ela em 1951 –, no Rio de Janeiro.
Desse ano em diante, o espetáculo seria apresentado em 1954, 1957, 1959,
sob a sua direção e basicamente com a mesma equipe.
Uma
quinta versão da montagem foi realizada, então, em 1971, apresentada
cerca de 20 vezes, para um público total de mais de 3.000 espectadores. O
êxito se repetiria durante muitos anos: 1973, 1974, 1986, 1991 e 1992,
sempre com direção de Maria Clara.
Em
2001, ano do falecimento da autora, “O Boi e o Burro no Caminho de
Belém” foi encenado por Bernardo Jablonski, que já participava das
montagens desde 1971, no elenco ou como assistente de produção e de
direção.
Nestes últimos 10 anos, a tradição de montar este espetáculo prosseguiu e continua cada vez mais forte.
Ao
que parece, o Natal no País, ou pelo menos no que diz respeito ao
teatro brasileiro, não seria o mesmo sem essa peça, que já está
enraizada na cultural teatral nacional e deve continuar espalhando, por
um bom tempo, o espírito dessa época tão singular.
Texto: Felipe Del
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