Na força do Ressuscitado, a Igreja iniciou o seu trabalho
evangelizador como nos testemunha o livro dos Atos dos Apóstolos. Duas são as
reações provocadas: empatia e hostilidade. De um lado, os cristãos eram
estimados por todos (At 4,33) pois não proclamavam uma verdade teórica, mas um
novo modo de viver (At 5,20). Por
outro lado, os cristãos eram perseguidos, porque falavam em nome do Senhor
Jesus.
Hoje, ainda percebemos esta dupla reação. Mas é preciso ter
clareza de que o mais importante é o testemunho, não as palavras. É preciso também
reconhecer os limites dos cristãos, que pela falta de testemunho criam
barreiras para que o mundo se encante pelo Evangelho. No caso da Igreja como
instituição, é preciso um constante exame de consciência, reconhecendo que a
igreja está em contínua reforma - Ecclesia
semper reformanda.
No Evangelho, vemos que os discípulos ainda não haviam se
deixado tocar totalmente pela força do Ressuscitado. Estavam em um estágio bem
diferente daquele relatado na primeira leitura, ou seja, sem vitalidade. Mesmo
tendo visto o Senhor, voltaram às atividades cotidianas. Além disso, realizavam
um trabalho vão, pois não pescaram nada.
A presença de Cristo causou uma transformação, iniciada com
uma provocação de fé: “joguem a rede do lado direito!” Deviam confiar,
abrindo-se para a graça da fé, obedecer mesmo quando parecia improvável. Jogaram
a rede do lado direito, que simboliza o lado das bênçãos, dos escolhidos (lá é
o lugar dos benditos do Pai: cf. Mt 25), o lado da consciência, do sentido da
vida. Devem, com esta atitude, lembrar que são escolhidos e agraciados, tendo
consciência do sentido que o Senhor Ressuscitado traz para suas vidas. Devem
deixar o estado de marasmo, abandonar a tristeza e abraçar a alegria, o sentido
da vida e da missão. Agora a barca da Igreja vai pescar, e em sua rede caberá
todos os tipos de peixes, simbolizados pelo número 153.
O maior milagre, no entanto, não foi a pesca. Mais
importante foi a transformação de vida operada nos discípulos. Mais ainda a
transformação de Pedro: de negador e temeroso em apóstolo do amor. Permitiu que
a omissão e um coração vacilante se convertessem em amor ao Mestre: “Sim,
Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.
Hoje a Palavra de Deus nos convida a uma transformação. As
dificuldades (perseguições) devem se tornar alegria, à exemplo dos apóstolos ao
saírem do Sinédrio, como nos diz o Salmo: “transformastes o meu pranto em uma
festa” (Sl 29,12). Devemos transformar nosso coração temeroso e sem vitalidade
em um coração cheio de vida, tocado pelo dinamismo do Ressuscitado. Para tanto,
será necessário encher a vida de amor como Pedro o fez. Nosso apóstolo não fez
uma confissão de fé como Tomé, mas uma confissão de amor que o tornou apto para
conduzir a Igreja primitiva: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”.
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