A oração é o encontro
dialogante e íntimo entre a pessoa e Deus. Para isto não importa o
local e nem a hora, mas a atitude de abertura, de escuta, a
circunstância em que acontece o encontro e o sentido que se dá ao mesmo.
A verdadeira oração brota no interior da pessoa, a partir da sua realidade, necessidade do encontro e diálogo com Deus.
Portanto, no processo
catequético, é importante ter presente que “a catequese não consiste
apenas em ensinar a doutrina, mas deve iniciar o catequizando para a
vida e a vivência cristã” (cf. CT 33 - João Paulo II).
Para isto é
fundamental ir despertando no catequizando, em cada encontro
catequético, o conversar com Deus, o abrir-se para escutá-lo, o senti-lo
e expôr suas alegrias e vitórias, bem como seus desafios, dificuldades
e, gradativamente, abrir para falar das alegrias e desafios/sofrimentos
presentes na família, na escola, no grupo de colegas, na cidade, no
campo... enfim, não rezar somente a sua realidade, mas a realidade do
povo, do mundo ...
E como fazer isto?
Aqui é necessário partir do rosto de Deus que se manifesta em forma de cinco verbos presentes nos versículos 7 e 8 de Êxodo 3:
“Eu vi... ouvi... conheço... por isto, desci para libertar”.
Deus é um Deus
concreto, pé-no-chão, que caminha com a pessoa e com o seu povo. Caminha
lado a lado, a cada instante, na situação da vida do povo. Às vezes, é
como a caminhada pelo deserto: Ele caminha na frente (cf. Dt 1, 29-33),
protegendo o seu povo dos perigos. Outras vezes, no momento de maior
dificuldade, carregando este povo (cf. Dt 1, 3). É a mensagem das
“pegadas na Areia”.
É essencial na
catequese ajudar o catequizando a perceber, sentir e experienciar isto
na sua vida. “Exercitá-lo” na percepção do rosto de Deus na sua vida:
a) O que eu vi? (de
bom e de menos bom): comigo mesmo, na família, nos vizinhos, na rua, na
escola, na comunidade, no bairro,... no Estado, no Brasil, no mundo
(através dos noticiários de TV, jornais, revistas...).
b) O que ouvi?
c) O que passei a conhecer?
d) A partir disso, desci?(fui ao encontro, fiz alguma coisa, sensibilizei-me, senti que é necessário mudar algo...?)
e) Para libertar. O que Deus através deste ver, ouvir, conhecer provocou em mim?
Para chegar a isto:
- a primeira coisa é o
silêncio interior e o refletir: O que vi, ouvi e conheci, senti/fiz?
Ouvir Deus falando através dessas perguntas?
- a segunda atitude é
responder/falar a Deus sobre isso. E aqui é preciso deixar livre para
cada um expressar a Deus o que sente necessário a partir da primeira
atitude, isto é: louvar/ agradecer, suplicar ou pedir perdão.
Oração na vida do catequizando
E você, catequista, poderá proceder desse modo também a partir do conteúdo e dinâmicas que você trabalhou.
É importante dedicar
uns quinze minutos a esse vi, ouvi, conheci (hoje na catequese), por
isso desci para libertar (ou seja, o que sinto que Deus me pede e pede
para nós.)
Um suave fundo
musical pode ajudar, nesse momento, a criar um clima de silêncio que
favoreça o desenvolvimento da oração, inclusive a sua expressão. E à
medida em que o catequizando for expressando a sua oração, intercalar
com um refrão apropriado, cantado ou falado. Exemplo:
se for súplica: Senhor, atendei a nossa súplica/prece/necessidade.
se for perdão: Tende misericórdia/ piedade de nós; perdoai as nossas omissões...
PARAR E OBSERVAR
Outra sugestão que
poderá despertar no catequizando a oração, é incentivá-lo para que,
conforme o tema trabalhado no encontro de catequese, ele tire um tempo
durante a semana que segue, para parar e observar pessoas que por ele ou
ela passam e, a partir da expressão do rosto de cada pessoa, perceber o
que Deus através dessa pessoa fala/expressa: o que viu, o que ouviu, o
que conheceu.
E o que isto provoca
nele como cristão que é e que se prepara para os sacramentos da
Reconciliação, da Eucaristia e/ou da Crisma.
Alguns lugares
privilegiados para tal experiência de Deus: no ônibus, na praça, no
terminal de ônibus, na feira, no trabalho, na roça, numa rua movimentada
por pedestres, no supermercado ou..., etc.
O fundamental é criar
no catequizando a convicção de que, em qualquer situação e lugar, pode
experienciar Deus, sendo, portanto, possível rezar.
Jesus faz experiência de oração
O próprio Jesus fez a
experiência de Deus com tantas pessoas e stiuações que encontrou na sua
caminhada. Além de rezar salmos e os credos que o povo judeu rezava
diariamente, Jesus se retirava, após situações vividas, para rezar, isto
é, para dialogar com o Pai. E foi nestes momentos que mais claramente
foi entendendo e compreendendo a missão que o Pai lhe confiava e a ação
do Espírito Santo através das pessoas e situações.
Jesus parava para
ouvir o que o Pai lhe dizia, manifestava e interpelava (cf. Mt 14, 23;
Mc 6, 7; Lc 4, 42; 6, 12; 9, 28) através das curas que ia fazendo
(exemplo: mulher encurvada, homem de mão seca, cego de nascença, sogra
de Pedro, leprosos, mulher com hemorragia...), dos confrontos e desafios
com as autoridades religiosas e o poder político (sacerdotes, fariseus,
escribas, herodianos...).
Um exemplo concreto
para entendermos melhor: quando trouxeram a Jesus uma mulher que fôra
encontrada em adultério, as autoridades religiosas alegaram que a Lei de
Moisés permitia, neste caso, os homens apedrejá-la até a morte (cf. Jo
8, 1-11). Certamente, depois desse episódio, Jesus colocou-se em oração,
perguntando o que o Pai lhe queria mostrar (para sua missão) com esse
caso da mulher adúltera, e o que significava isto para Ele e para o povo
que vivia oprimido e marginalizado. Assim, Jesus ouvindo o Pai continua
sua missão de libertar os oprimidos.
Oração = atitude diária
Você catequista,
poderá incentivar o catequizando a assumir diariamente atitudes de
oração, sobretudo antes de dormir. Isto é, fazer uma memória de tudo o
que viu, ouviu, conheceu, sentiu durante o dia, desde a hora em que
levantou. Daí, perguntar a Deus:
- O que queres dizer, a partir do que hoje vivi, para mim? O que queres que eu faça?
É bom ter presente
que haverá momentos em que o catequizando sentirá necessidade de
agradecer/ louvar a Deus, outras vezes de suplicar, e outras de pedir
perdão.
Essa atitude diária o
levará ao verdadeiro encontro com Deus e à alegria desse encontro
através da oração. É bom até que ele tenha um caderno específico para
anotar o que lhe falou mais forte na oração.
A mesma experiência
você poderá fazer através de um texto bíblico, outras vezes de uma
notícia de jornal, de TV, de uma ou mais figuras, de um canto (K7 ou CD
não necessariamente de Igreja), um filme..., mas sempre perguntando o
que vi, ouvi, conheci..., o que Deus através disto me diz, me provoca, o
que quer que eu faça.
Terezinha Mota Lima
da Cruz, no seu livro “Este Mundo de Deus” (Paulus, 1999), coloca que é
necessário nos educarmos para a espiritualidade do cotidiano:“O mundo
chamado material, não é apenas um convite para a contemplação e à
vivência da espiritualidade; ele é terreno necessário, insubstituível,
sem o qual a espiritualidade se torna vazia e inexpressiva. Não é por
acaso que a originalidade do cristianismo passa pela Encarnação, pois
foi na realidade concreta deste mundo que recebemos a maior manifestação
de Deus: Jesus Cristo”.
No mesmo livro, ela
cita um pensamento de Teillard de Chardin: “Deus, naquilo que possui de
mais vivo e de mais encarnado não está longe de nós ou fora da esfera do
palpável; Ele nos espera a cada instante na ação, na obra do momento.
Ele está, de algum modo, na ponta da minha caneta, da minha picareta, do
meu pincel, da minha agulha..., do meu coração, do meu pensamento”.
Estes dois
pensamentos nos dizem que podemos e devemos rezar a partir de qualquer
coisa, momento e acontecimento e neles encontrar e experienciar
profundamente Deus, sentindo-nos como quando nos encontramos com um(a)
amigo(a) que muito amamos.
A oração é algo
espontâneo que deve acontecer entre a pessoa e Deus, sem muitos ritos e
formalidades, isto e, para rezar não é preciso pôr-se de joelhos, juntar
as mãos, reclinar a cabeça, fechar os olhos... Embora essas atitudes
possam ser importantes, o fundamental, porém, é o sentir com o coração, o
colocar-se em atitude de escuta, e perceber o que Deus vai
manifestando.
Ir. Mari Luzia Hammes - CF
(FONTE)
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