Lucas
12,13-21
“Tenham
cuidado com qualquer tipo de ganância”
Mais
uma vez nos deparamos com um dos temas favoritos de Lucas - o combate à
ganância, em todas as suas formas, especialmente dentro da comunidade dos discípulos
de Jesus. A parábola de hoje só se encontra neste Evangelho, sublinhando assim
o interesse de Lucas pelo assunto.
Ressoa
com todas as letras a advertência de Jesus para os seus discípulos: “Atenção!
Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância” (v. 15b). Com certeza, a
caminhada de mais ou menos cinquenta anos das comunidades cristãs, até a data
do escrito de Lucas, tinha mostrado que os cristãos não eram isentos da
tentação da acumulação de bens, e do individualismo. Cumpre assinalar que o
Evangelho não nega o valor nem a necessidade de bens materiais. Afinal, sem
eles não seria possível ter uma vida digna e humana - o que Deus quer para
todos os seus filhos e filhas. A luta não é contra os bens, mas contra a
ganância, o egoísmo, a acumulação, a confiança no aumento dos bens como valor
supremo das nossas vidas.
Se
foi importante fazer esta advertência há quase dois mil anos, quanto mais hoje,
quando nós vivemos mergulhados em um mundo de consumismo e materialismo; quando
se prega o “evangelho” da competitividade e acumulação; onde os profetas do
projeto neo-liberal da exclusão entram todos os dias em nossos lares, através
da televisão e da internet; onde a meta do sistema é concentrar cada vez mais
bens nas mãos de uma elite privilegiada, excluindo, cada vez mais, pessoas que
não podem competir. Até Deus e a religião se tornam bens rentáveis, com certos
“pregadores do Evangelho”, auto-denominados de “Apóstolos” “Bispos” ou
“Pastores” se enriquecendo escandalosamente às custas dos fiéis ingênuos e manipulados..
Como nós cristãos vivemos mergulhados neste ambiente, acontece muitas vezes
que, sem dar conta do fato, nós o assimilamos, como por osmose, diluindo o
evangelho da fraternidade e solidariedade, e reduzindo a prática religiosa ao
âmbito individual e intimista, tirando dela a sua força transformadora. Os pronunciamentos recentes do Papa Francisco
sobre esse assunto são mais do que oportunos.
O
rico da parábola muito bem poderia representar a ideologia do sistema vigente
dos nossos dias. Chama a atenção o número de vezes que ele usa as palavras
“eu”, “meu” “minha” - é um homem totalmente fechado no seu mundinho, fechado
sobre si, sem sensibilidade diante dos sofrimentos e necessidades dos irmãos e
irmãs.
Jesus
o chama de “louco” - não por ter o suficiente para viver bem, nem por
alegrar-se com este fato, mas por colocar o sentido da sua vida na acumulação
de riquezas, achando que isso lhe traria a felicidade por si. A pergunta que
Jesus faz: “E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” (v. 20),
levanta a pergunta fundamental que todos nós temos que responder: qual é o
sentido da nossa vida? O que é realmente importante? Sobre o que baseamos a
nossa felicidade? Pois, tudo passará - e então seria tolice fundamentar a nossa
felicidade sobre algo que necessariamente vai acabar. É um convite para que
achemos o alicerce firme para a nossa caminhada, para a nossa felicidade.
Podemos construir as nossas vidas sobre areia - movediça, sem firmeza; ou sobre
a rocha - firme e imutável. Sobre coisas efêmeras, ou sobre Deus e o seu
projeto de solidariedade, fraternidade e partilha.
O
homem da parábola terminou a sua vida na frustração, perdeu tudo, e a sua vida
acabou sem sentido. E Jesus nos adverte: “Assim acontece com quem ajunta
tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus!” (v. 21). A escolha é nossa!
Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br
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