Com
um óuco de paciência vc chegará ao final da leitura e sairá plenamente
satisfeito e enriquecido com as palavras do Santo papa.
Como
falar de Deus no mundo de hoje?
28.11.2012
- Cidade do Vaticano: Nesta
chuvosa quarta-feira de outono, o encontro semanal do Pontífice com
os fiéis se realizou na Sala Paulo VI, no Vaticano. Como é
tradição, o Papa leu a sua reflexão em italiano, e na sequência,
resumiu o texto em várias línguas. Prosseguindo a
série sobre o Ano da Fé,
a questão principal da audiência foi “Como
falar de Deus no mundo de hoje?”.
Caros
irmãos e irmãs,
A pergunta central que hoje nos fazemos é a seguinte: como falar de Deus no nosso tempo? Como comunicar o Evangelho, para abrir estradas na sua verdade salvífica nos corações sempre fechado dos nossos contemporâneos e na mente deles tantas vezes distraídas por tantos estímulos da sociedade?
O
próprio Jesus, dizem-nos os Evangelistas, no anunciar do Reino de
Deus se perguntou sobre isto: “A que podemos comparar o reino
de Deus e com que parábola podemos descrevê-lo?” (Mc
4,30). Como falar de Deus hoje?
A
primeira resposta é que nós podemos falar de Deus, porque Ele falou
conosco. A primeira condição para falar de Deus é também a escuta
de quanto disse o próprio Deus. Deus falou conosco! Deus não é uma
hipótese distante sobre a origem do mundo; não é uma inteligência
matemática muito distante de nós. Deus se interessa por nós, nos
ama, entrou pessoalmente na realidade da nossa história, se
auto-comunicou até encarnar-se.
Então,
Deus é uma realidade da nossa vida, é tão grande que tem também
tempo para nós, ocupa-se de nós. Em Jesus de Nazaré nós
encontramos a face de Deus, que desceu do seu Céu para
imergir-se no mundo dos homens, no nosso mundo, e ensinar a “arte
de viver”, o caminho da felicidade; para libertar-nos do pecado e
tornar-nos filhos de Deus (cfr Ef 1,5; Rm 8,14). Jesus veio
para salvar-nos e mostrar-nos a vida boa do Evangelho.
Falar de Deus quer dizer antes de tudo ter bem claro isso que devemos levar aos homens e às mulheres do nosso tempo: não um Deus abstrato, uma hipótese, mas um Deus concreto, um Deus que existe, que entrou na história e está presente na história; o Deus de Jesus Cristo como resposta à pergunta fundamental do porquê e do como viver. Por isto, falar de Deus requer uma familiaridade com Jesus e o seu Evangelho, pressupõe uma nossa pessoal e real consciência de Deus e uma forte paixão pelo seu projeto de salvação, sem ceder à tentação do sucesso, mas seguindo o método do próprio Deus.
O
método de Deus é aquele da humildade – Deus
se faz um de nós – é o método realizado na Encarnação na
simples casa de Nazaré e na gruta de Belém, aquela da parábola do
grão de mostarda. Não devemos temer a humildade dos pequenos passos
e confiar no fermento que penetra na massa e lentamente a faz crescer
(cfr Mt 13,33).
No
falar de Deus, na obra de evangelização, sob a orientação do
Espírito Santo, é necessária uma recuperação da simplicidade, um
retornar ao essencial do anúncio: a Boa Notícia de um Deus que é
real e concreto, um Deus que se interessa por nós, um
Deus-Amor que se faz próximo de nós em Jesus Cristo até a Cruz e
que na Ressurreição nos doa a esperança e nos abre a uma vida que
não tem fim, a vida eterna, a vida verdadeira.
Aquele
excepcional comunicador que foi o apóstolo Paulo nos oferece uma
lição que vai direto ao centro da fé do problema “como
falar de Deus” com grande simplicidade. Na Primeira Carta
aos Coríntios escreve: “Quando cheguei no meio de vós, não
me apresentei para anunciar o mistério de Deus com excelência da
palavra ou de sabedoria. Decidi, na verdade, não dever saber coisa
alguma no meio de vós senão Jesus Cristo, e Cristo crucificado”
(2,1-2).
Então
a primeira realidade é que Paulo não fala de uma filosofia que ele
desenvolveu, não fala de ideais que encontrou em qualquer lugar ou
inventou, mas fala de uma realidade da sua vida, fala do Deus
que entrou na sua vida, fala de um Deus real que vive, falou com ele
e falará conosco, fala de Cristo crucificado e ressuscitado.
A
segunda realidade é que Paulo não busca a si mesmo, não quer criar
um time de admiradores, não quer entrar na história como chefe de
uma escola de grande conhecimento, não busca a si próprio, mas São
Paulo anuncia Cristo e quer ganhar as pessoas para o Deus verdadeiro
e real. Paulo fala somente com o desejo de querer pregar aquilo que
entrou na sua vida e que é a verdadeira vida, que o conquistou no
caminho para Damasco.
Então,
falar de Deus quer dizer dar espaço Àquele que se faz conhecer,
que nos revela a sua face de amor, quer dizer expropriar o próprio
eu oferecendo-o a Cristo, na consciência de que não somos nós a
poder ganhar os outros para Deus, mas devemos conhecê-los pelo
próprio Deus, para invocá-lo. O
falar de Deus nasce também da escuta, do nosso conhecimento de Deus
que se realiza na familiaridade com Ele, na vida da oração e
segundo os Mandamentos.
Comunicar a fé, para São Paulo, não significa trazer a si mesmo, mas dizer abertamente e publicamente aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, quanto experimentou na sua existência ora transformada pelo encontro: é trazer aquele Jesus que sente presente em si mesmo e tornou-se o verdadeiro sentido da sua vida, para fazer entender a todos que Ele é necessário para o mundo e é decisivo para a liberdade de cada homem.
O
Apóstolo não se contenta de proclamar as palavras, mas envolve toda
a própria existência na grande obra da fé. Para falar de
Deus, é preciso dar-lhe espaço, na confiança de que é Ele que age
na nossa fraqueza: dar-lhe espaço sem medo, com simplicidade e
alegria, na convicção profunda de que quanto mais colocamos no
centro Ele e não nós, mais a nossa comunicação será frutífera.
E
isto vale também para a comunidade cristã: esses são chamados a
mostrar a ação transformadora da graça de Deus, superando
individualismos, fechamento, egoísmos, indiferença e vivendo na
relação cotidiana o amor de Deus. Perguntemo-nos se são realmente
assim as nossas comunidades. Devemos colocar-nos de modo a tornar-nos
sempre e realmente assim, anunciadores de Cristo e não de nós
mesmos.
Neste ponto, devemos perguntar-nos como comunicava o próprio Jesus. Jesus na sua singularidade fala de seu Pai – Abbá – e do Reino de Deus, com o olhar repleto de compaixão pelos inconvenientes e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, direi, o essencial do anúncio de Jesus é que torna transparente o mundo e a nossa vida vale para Deus.
Neste ponto, devemos perguntar-nos como comunicava o próprio Jesus. Jesus na sua singularidade fala de seu Pai – Abbá – e do Reino de Deus, com o olhar repleto de compaixão pelos inconvenientes e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, direi, o essencial do anúncio de Jesus é que torna transparente o mundo e a nossa vida vale para Deus.
Jesus
mostra que no mundo e na criação aparece a face de Deus e nos
mostra como nas histórias cotidianas da nossa vida Deus está
presente. Seja
nas parábolas da natureza, o grão de mostarda, o campo com diversas
sementes, ou na nossa vida, pensamos na parábola do filho pródigo,
de Lázaro e em outras parábolas de Jesus.
Dos
Evangelhos vemos como Jesus se interessa por cada situação humana
que encontra, se emerge na realidade dos homens e das mulheres do seu
tempo, com uma confiança plena na ajuda do Pai. E que realmente
nesta história, secretamente, Deus está presente e se estamos
atentos podemos encontrá-Lo. E os discípulos, que vivem com Jesus,
as multidões que O encontram, vêem a sua reação aos problemas
mais absurdos, vêem como fala, como se comporta; vêem Nele a ação
do Espírito Santo, a ação de Deus.
Nele
anúncio e vida se entrelaçam: Jesus age e ensina, partindo
sempre de um íntimo relacionamento com Deus Pai. Este estilo
torna-se um indício essencial para nós cristãos: o nosso modo de
viver na fé e na caridade torna-se um falar com de Deus no hoje,
porque mostra com uma existência vivida em Cristo a credibilidade, o
realismo, daquilo que dizemos com as palavras, que não são somente
palavras, mas mostram a realidade, a verdadeira realidade.
E
nisso devemos estar atentos para entender os sinais dos tempos na
nossa época, isto é, para identificar os potenciais, os desejos, os
obstáculos que se encontram na cultura atual, em particular o desejo
de autenticidade, o anseio de transcendência, a sensibilidade para a
salvaguarda da criação, e comunicar sem temor a resposta que
oferece a fé em Deus. O Ano da Fé é ocasião para descobrir, com a
fantasia animada pelo Espírito Santo, novos caminhos em nível
pessoal e comunitário, a fim de que em cada lugar a força do
Evangelho seja sabedoria de vida e orientação da existência.
Também no nosso tempo, um lugar privilegiado para falar de Deus é a família, a primeira escola para comunicar a fé às novas gerações. O Concílio Vaticano II fala dos pais como os primeiros mensageiros de Deus (cfr Cost. dogm. Lumen gentium, 11; Decr. Apostolicam actuositatem, 11), chamados a redescobrir esta sua missão, assumindo a responsabilidade no educar, no abrir a consciência dos pequenos ao amor de Deus como um serviço fundamental às suas vidas, no ser os primeiros catequistas e mestres da fé para seus filhos.
Também no nosso tempo, um lugar privilegiado para falar de Deus é a família, a primeira escola para comunicar a fé às novas gerações. O Concílio Vaticano II fala dos pais como os primeiros mensageiros de Deus (cfr Cost. dogm. Lumen gentium, 11; Decr. Apostolicam actuositatem, 11), chamados a redescobrir esta sua missão, assumindo a responsabilidade no educar, no abrir a consciência dos pequenos ao amor de Deus como um serviço fundamental às suas vidas, no ser os primeiros catequistas e mestres da fé para seus filhos.
E
nesta tarefa é importante antes de tudo a vigilância, que significa
saber entender as ocasiões favoráveis para introduzir na família o
discurso de fé e para fazer amadurecer uma reflexão crítica a
respeito dos numerosos condicionamentos aos quais são submetidos os
filhos. Esta atenção dos pais é também sensibilidade em
reconhecer as possíveis questões religiosas nas mentes dos filhos,
às vezes evidentes, às vezes secretas. Depois, a alegria: a
comunicação da fé deve sempre ter uma totalidade de alegria. É a
alegria pascal, que não omite ou esconde a realidade da dor, do
sofrimento, do cansaço, da dificuldade, da incompreensão e da
própria morte, mas sabe oferecer os critérios para interpretar tudo
na perspectiva da esperança cristã.
A
vida boa do Evangelho é mesmo este olhar novo, esta capacidade de
ver com os próprios olhos de Deus cada situação. É importante
ajudar todos os membros da família a compreender que a fé não é
um peso, mas uma fonte de alegria profunda, é perceber a ação de
Deus, reconhecer a presença do bem, que não faz barulho; e oferece
orientações preciosas para viver bem a própria existência.
Enfim, a capacidade de escuta e de diálogo: a família deve ser um
ambiente onde se aprende a estar junto, a conciliar os conflitos no
diálogo recíproco, que é feito de escuta e de palavra, a
compreender-se e a amar-se, para ser um sinal, um para o outro, do
amor misericordioso de Deus.
Falar de Deus, então, quer dizer fazer compreender com a palavra e com a vida que Deus não é o concorrente da nossa existência, mas sim é o seu verdadeiro assegurador, a garantia da grandeza da pessoa humana. Assim, retornamos ao início: falar de Deus é comunicar, com força e simplicidade, com a palavra e com a vida, isso que é essencial: o Deus de Jesus Cristo, aquele Deus que nos mostrou um amor tão grande a ponto de encarnar-se, morrer e ressurgir para nós; aquele Deus que pede para segui-Lo e deixar-se transformar pelo seu imenso amor para renovar a nossa vida e as nossas relações; aquele Deus que nos doou a Igreja, para caminhar juntos e, através da Palavra e dos Sacramentos, renovar a inteira Cidade dos homens, a fim de que possa tornar-se Cidade de Deus.
Fonte:
Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, por Últimas
e Derradeiras Graças.
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