VIGÉSIMO
QUARTO DOMINGO COMUM (16.09.12)
Mc
8, 27-35
Como evangelho de hoje, temos a história do
caminho de Cesaréia de Felipe. Embora de grande importância também em Mateus e
Lucas, o relato mais original está no evangelho de Marcos, Cap. 8, o qual se
torna o pivô de todo o Evangelho.
A pedagogia
do relato é interessante. Primeiro, Jesus faz uma pergunta bastante inócua:
“quem dizem os homens que eu sou?” Assim, chovem respostas, pois esta pergunta
não compromete - é o “diz que...” Mas a segunda pergunta traz a “facada”: “E
vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem
responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete! Somente Pedro se
arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias”. Aparentemente,
Pedro acertou, e realmente, na versão mateana, Jesus confirma a verdade do que
proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua
profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é importante que
continuemos a leitura pelo menos até o v. 35, porque o assunto é mais
complicado do que possa parecer.
Jesus logo
explica o que quer dizer ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e
poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel
à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era
dar a vida em favor de muitos. Usando o título messiânico “Filho de Deus” - que
vem de Daniel 7, 13ss - Jesus confirmou que era o Messias, mas não o Messias que
Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um
Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores,
até a Cruz. Por isso, Pedro contesta Jesus, pedindo que nada disso acontecesse.
E como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Afasta-se de mim,
satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens” (v. 33).
Pedro, cuja proclamação de fé parecia ser tão acertada, é agora chamado de
Satanás - o Tentador por excelência! Pedro tinha os títulos certos, mas a
prática errada! Usando os nossos termos de hoje, de uma forma um tanto
anacrônica, podemos dizer que ele tinha ortodoxia mas não ortopraxis!
E assim,
Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v.
34). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar um exercício intelectual ou
teológico, mas uma prática, o seguimento d’Ele na construção do seu projeto,
até às últimas consequências.
Hoje, dois
mil anos depois, a pergunta de Jesus ressoa forte - a segunda pergunta. Para
nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo, mas para
cada um de nós pessoalmente? No fundo a resposta se dá, não com palavras, mas
pela maneira em que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus - Ele
que veio para que todos tivessem a vida e a vida plenamente (Jo 10, 10).
Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a
doutrina e a teoria certas, mas a prática errada!
Pe. Tomaz Hughes
SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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