Todos nós já ouvimos falar daquela situação em que, diante
de um copo com água pela metade, algumas pessoas dizem que se trata de um copo
meio cheio e outras reclamam que é um copo meio vazio. Isso é uma espécie de
mini parábola, que costumamos usar para mostrar como alguns estão sempre
prontos a ver uma questão de forma positiva enquanto outros só conseguem ver o
lado negativo. Isso acontece muito nos relacionamentos humanos. Todos nós temos
defeitos e qualidades. Mas há pessoas que tendem a ver e destacar só os
defeitos e outras que buscam em primeiro lugar as qualidades. É claro que as
que enxergam as qualidades costumam ser mais felizes e ter mais amigos.
Ver algo de
bom no outro desperta nele um desejo de reciprocidade. Por exemplo; uma vez eu
estava na fila do banco e uma senhora que estava na minha frente me olhou e disse
que achava muito bonito o brinco que eu estava usando; imediatamente olhei bem
para ela e procurei algo bom para elogiar também; gostei dos óculos que ela
usava e disse que era um modele muito bonito, e aí começou uma conversa
amigável que fez o tempo passar mais depressa e de modo mais agradável enquanto
nós duas esperávamos o atendimento.
No diálogo
ecumênico, essa disposição de ver em primeiro lugar o que a outra Igreja tem de
positivo é um excelente começo de relacionamento, que produz um clima favorável
e leva o outro lado a um desejo de retribuir a gentileza. Para isso não temos
que ser fingidos (eu de fato gostei dos óculos da senhora que estava na fila!)
porque só com sinceridade a coisa funciona direito.
A esse
respeito nossa Igreja tem reafirmado em várias situações que “os bens presentes nos outros cristãos podem
contribuir para a edificação dos católicos” (Ut Unum Sint 48). Mas em
primeiro lugar destacamos os ‘bens” que temos em comum como, por exemplo: a
maior parte da Bíblia, o amor ao evangelho, muitas doutrinas que todos herdaram
do tempo antes da Reforma, o interesse em obras de misericórdia, uma ética
baseada na lei de Deus...
E a
catequese poderia falar bem dos irmãos de outras Igrejas? Isso não seria
arriscado, contraproducente? Temos que apresentar lealmente a fé vivida por
esses irmãos. Isso já estava na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, de
João Paulo II: “... é sobremaneira
importante fazer uma apresentação correta e leal de outras Igrejas e
comunidades eclesiais, das quais o Espírito de Cristo não recusa servir-se como
de meios de salvação; e entre os elementos e os bens tomados em conjunto, com
que a Igreja se edifica e é vivificada, alguns e até muitos e muito importantes
podem existir fora dos limites visíveis da Igreja Católica.”(CT 32)
Poderíamos
então destacar dois bons motivos para que a catequese não tenha receio de
reconhecer o que há de bom nos irmãos de outras Igrejas: a) é isso que a nossa
Igreja manda fazer e aí ela demonstra ter grandeza e maturidade; b) esse tipo
de atitude prepara melhor os nossos catequizandos para o diálogo já que,
sabendo ver o melhor do outro, correm menos risco de entrar em brigas
desgastantes.
Quando , em
todas as Igrejas, todos tiverem esse tipo de atitude estaremos dando aos que não
creem um impactante testemunho do amor capaz de curar muitos tipos de feridas.
Therezinha Cruz
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