Um material de formação pedagógica traz uma frase sobre a
qual deveríamos meditar com cuidado. É assim: “Quando João fala de Pedro,
ficamos sabendo mais a respeito de João do que de Pedro.” E não é verdade? João pode até estar dizendo
algo que não é verdadeiro a respeito de Pedro mas, ao falar, revela suas
idéias, as atitudes que valoriza, seus preconceitos ou sua capacidade de
acolher o outro.
Por isso
fico muito contente quando vejo que esforços a favor do ecumenismo e do diálogo
inter-religioso estão incentivados nos nossos documento e se tornam visíveis em
tantas atividades dentro da nossa Igreja. Eles me dizem coisas bonitas sobre a
nossa maturidade católica. Nossa Igreja sabe bem que, sendo a maior e a que tem
uma tradição mais solidamente ligada à herança apostólica, a ela cabe uma
responsabilidade especial de trabalhar pela unidade. Curar feridas de tantos
séculos é algo que exige maturidade, caridade e, sobretudo, muita fidelidade ao
desejo explícito de Jesus. E que bom é podermos ver isso na nossa Igreja!
O evangelho
mesmo nos diz que “a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Mt 12,
34). Então é preciso educar o coração para que as palavras se tornem adequadas
para a construção da unidade e da paz. Para isso precisamos de um bom
conhecimento dos temas que vamos abordar, seja na catequese, seja em nossas
conversas com parentes, amigos, vizinhos.
Nosso Diretório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre o
Ecumenismo, elaborado pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos
Cristãos, nos diz em seu número 61a, como orientação para a catequese :
“Ao falar das outras Igrejas e Comunidades
Eclesiais, é importante que se apresente, de forma correta e leal o seu
ensinamento. Entre os elementos que constituem a própria Igreja e a vivificam,
há muitos e de grande valor, que podem existir para além dos limites visíveis
da Igreja católica. O Espírito de Cristo não recusa, pois, servir-se destas
comunidades como meios de salvação. Esta atitude põe em evidência as verdades
da fé comuns às diferentes confissões cristãs. E isso ajuda os católicos, por
um lado, a aprofundar sua fé e, por outro, a conhecer melhor e estimar os
outros cristãos, facilitando assim a busca, em comum, do caminho da unidade
plena na verdade total.”
E lembra
também no número 61d/e:
“Além disso, a catequese terá esta mesma
dimensão ecumênica se se esforçar por preparar as crianças e os jovens e também
os adultos para viverem em contato com outros cristãos, formando-se como
católicos e respeitando a fé dos outros.”
“Pode-se conseguir esta formação
discernindo as possibilidades oferecidas pela distinção entre as verdades da fé
e as formas de se exprimirem; pelo esforço mútuo de conhecimento e de estima
dos valores presentes nas respectivas tradições teológicas; pelo fato de
mostrar claramente que o diálogo criou novas relações que, bem compreendidas,
podem levar à colaboração e à paz.”
Tudo isso
precisa ser feito com bastante responsabilidade, com uma formação continuada
que nos faça discernir melhor o que é busca legítima de unidade e o que é
confusão de quem não conhece bem o terreno em que caminha. Mas vale a pena, por
muitos motivos: atende ao pedido de Jesus, nos faz conhecer melhor a nossa
própria identidade, cria um clima de construção de paz e colaboração fraterna e
até comunica uma imagem bonita da nossa tradição católica.
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